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Turismo, turistas e a portolândia.

por Fernando Lopes, 22 Out 16

Acordei cedo. Como as minhas mulheres iam ao cabeleireiro decidi dar uma volta a pé. Esta expressão significa quase sempre um regresso ao meu útero urbano, Cedofeita. Assim foi. Gosto de parar na esplanada junto à subida do Mirante. É um sítio despretensioso, um café que não pretende ser mais do que é. Os sítios assim são cada vez mais raros, os novéis proprietários procuram dar um ar sofisticado até a uma padaria. Farto desta patine de pechisbeque procuro o básico, sem rodriguinhos ou tretas.  Mesmo ao lado fica um hostel, a rua está cheia deles. Face ao vai e vem de turistas, questiono o proprietário. Talvez o futuro esteja mesmo no turismo. Os hotéis e hostels vizinhos, que na época baixa do ano passado se quedavam por uma ocupação de 50%, esperam entre Outubro e Abril uma taxa de 75%. À noite, diz-me, quase só serve estrangeiros. Fala-me das pessoas que saíram da zona por causa do barulho nocturno, de apenas existirem estes vizinhos temporários. Entristece-me. Todas as minhas velhinhas morreram, cada vez mais a baixa é um playground de turistas, e uma cidade sem moradores é algo artificial. Chama-me saudosista, mas ainda aspiro a uma cidade onde habitantes e turistas consigam fazer parte da urbe, não esta que se está a criar onde apenas existem os habitantes esporádicos e os que lá estão para os servir.

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20 comentários

De belitaarainhadoscouratos a 25.10.2016 às 13:42

O Porto é a minha cidade favorita desde que me lembro de ter preferências e até a mim, que vou lá apenas algumas vezes por ano, me doi ver no que se está a transformar. É que depois, quando a horda de turistas se virar para outras paragens, o que fica não é aquilo de que nos lembramos, de que gostamos, é mesmo a patine de pechisbeque de que falas. E é triste. E depois há aqueles, turistas, que se queixam de que não se pode ir ao Porto por estar cheio de turistas :)

De belitaarainhadoscouratos a 25.10.2016 às 13:44

ah, lembrei-me de um escrito visto numa rua de Santiago de Compostela: turismo é colonialismo

De Fernando Lopes a 25.10.2016 às 19:23

O problema é tipicamente português: um tipo transforma uma taberna num bar-petisqueira e fica rico. Logo a seguir 200 vão abrir igual negócio, fazer baixar os preços, todos ganham menos. Não tenho nada contra bares, hostels ou restaurantes, mas o negócio na baixa portuense é mais ao menos monotemático. Ideias originais são poucas, limitamo-nos a copiar «o que se vê lá fora» ou o que fez o vizinho ganhar uma pipa de massa. 

De belitaarainhadoscouratos a 26.10.2016 às 09:30

Ao menos os senhores que fabricam baldinhos de zinco tiveram um pico na produção nos 3 meses em que estiveram em alta as casas de hamburgueres gourmet! Image

De Fernando Lopes a 26.10.2016 às 10:12

Incluir na mesma frase hambúrguer e gourmet, não te parece uma contradição? :)

De belitaarainhadoscouratos a 26.10.2016 às 11:49

diria que balde de zinco e hamburguer ainda me impressiona mais, eheheh

De Fernando Lopes a 26.10.2016 às 18:33

Explica lá essa do zinco, que é uma subtileza que se me escapou.

De belitaarainhadoscouratos a 27.10.2016 às 09:27

Então! Nessas casas ditas gourmet de hamburgueres ou outras, servem as batatas fritas em baldinhos de zinco! Baldinhos de zinco! 
Não admira que haja uma vaga de http://wewantplates.com/


De Fernando Lopes a 27.10.2016 às 19:09

Image. Não conhecia. 

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