Diário do Purgatório © 2012 - 2014
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"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better."
por Fernando Lopes, 23 Ago 14
Leio no Público sobre a associação Dignitas e o suicídio medicamente assistido. Escapa à minha compreensão a polémica que possa existir em torno de alguém com uma doença terminal ou incapacitante seja impedido de decidir o momento da sua morte. Assisti à agonia do cancro ou Parkinson e numa situação idêntica gostava de poder decidir sobre a hora da minha partida. Nascemos porque alguém o escolheu por nós, porque se amou, até por mero acaso. Uma vez que o direito à existência não foi opção nossa que o seja o direito à morte em situações de sofrimento e degeneração.
por Fernando Lopes, 1 Mai 14
Como escritor, não posso traçar uma linha sobre aquilo que escrevo e o que não escrevo. Não posso pensar: «Estarei a ir longe demais?» Eu quero expor-me o mais possível! Todos os escritores que admiro são os que se expõem. Ser escritor é expormo-nos. Uma pessoa tem de correr o risco de não ter graça, o risco de passar too much information [informação excessiva], ou informação íntima que não interessa absolutamente nada… Não há confissão excessiva. As pessoas podem sentir-se desconfortáveis com essa confissão, mas o dever do escritor é expor-se, expor-se, expor-se. E escrever também tem um lado de catarse e de desafio em que uma pessoa desabafa à frente dos outros, desata aos gritos, a bater com os punhos de revolta, e não tem vergonha de o fazer.
Hoje pensei recorrentemente em suicídio uma vez mais...
por Fernando Lopes, 26 Jan 14
- Que estás aqui a fazer? Vieste-me buscar?
- Nunca apareço sem ser convocada; vim ao teu apelo, inconsciente ou não.
- É hora de ir?
- Nunca aviso quando venho em missão. Esta é apenas uma visita de cortesia, de avaliação se assim quiseres.
- Não há maneira de te enganar?
- Muitos tentaram, nenhum conseguiu.
- Consigo gerir a minha morte. Se me suicidar, por exemplo.
- Não sejas ingénuo, estou lá sempre, sou eu que decido do sucesso ou fracasso. Não podes enganar-me.
- Quem são essas aí atrás?
- São as minhas irmãs: tragédia, doença e envelhecimento. Embora seja a face que todos conhecem, ando sempre com elas.
- Tenho mais medo das tuas irmãs.
- Vê se compreendes isto: as nossas decisões são colegiais, nunca levo ninguém sem o seu consentimento. Porque causo grande medo, elegeram-me como representante; sou no entanto parte desta parceria indestrutível e eterna.
- E porque me apareceste assim em sonhos? Porque falas comigo?
- Apareci, chamaste, estás a confrontar-te com a tua mortalidade? Não sou eu que tenho resposta a essas perguntas. Tu e só tu és capaz.
- Não entendo.
- Esforça-te, é só um sonho, uma visitação aos teus medos.
- Significa que não me vens buscar hoje?
- Hoje, amanhã, daqui a dez anos, quando for, será.
- Tenho uma filha pequena, gostava de a ver crescer.
- Não está nas tuas mãos. Contenta-te em aproveitar o que tens agora, seria estúpido da tua parte pensar que a paternidade faz alguma diferença. Imaginas quantos como tu já levei?
- O.K., aceito.
- Não temas, virei por ti quando menos esperares.
por Fernando Lopes, 5 Jan 14
Naquela altura morria muita gente de tuberculose, hoje é de cancro ou do coração, morre-se de qualquer coisa, tanto faz, vivemos entre mortos, gente que vai morrer e sabe que vai morrer e gente que já morreu, gente morta ou provavelmente morta ou morta daqui a bocado, amanhã, hoje ainda talvez, morte súbita, morte zás! e adeus… os mortos caem em todos os lados, caem-nos em cima, apertam-nos, já não metem medo, são tantos, há muitos, há cada vez mais companhia de mortos, tornam-se maçadores, abafam o ar. Aparecem-nos às vezes com um sorriso, fingem bem, mas debaixo dos fatos vem um cheiro que não engana, os olhos são vazios e lúcidos, já não querem ou esperam nada, estão mortos por detrás da gravata.
(…) Vamos criando distâncias pela vida fora, vamos morrendo uns para os outros. E também vamos morrendo dentro de nós. Dou os bons-dias a tipos que já matei; passo na rua por alguns satisfeitos fantasmas que se espantam (gritam-me: Ó pá, inda és vivo?) quando me vêem respirando e mexendo dentro da minha farpela pobre. Dormi mais de dez anos com o cadáver da minha mulher e na mesma cama. Jamais nos conhecemos, fomos sempre dois mortos um para o outro. São coisas que acontecem.
In "O Teodolito"
Interessante chegar aqui anos mais tarde aqui e pe...
Achei muito interessante atualmente esta sua posta...
boa tarde , estive neste sitio esta semana e pergu...
O Pretinho do Japão é citado, como profeta, em Ram...