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A crise é para os pobres.

por Fernando Lopes, 16 Fev 14

BMW lidera a tabela de vendas, com 947 unidades vendidas em janeiro, mais 45 unidades que a Renault e 51 unidades que a Volkswagen.

 

Passos Coelho verá nestes dados um sinal inequívoco de retoma; ao mesmo tempo que diminuem os utilizadores de transportes públicos, aumenta o de proprietários de BMWs.

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Vamos fugir deste País.

por Fernando Lopes, 29 Dez 13

Todos falam da emigração jovem, da “fuga de cérebros”, da formação que os nossos impostos pagaram e que está a ser aproveitada por outros países. Possuo nas minhas relações familiares e afectivas pais que dizem a jovens de quinze anos “estuda muito e aprende línguas para ires trabalhar lá para fora”. Como pai de um adolescente, diria o mesmo.

 

Esta realidade está no entanto a tomar contornos mais amplos. Amigos dos trinta aos cinquenta, muitos deles vítimas de desemprego, salários em atraso, relações laborais precárias, procuram sair do país. Ontem, numa reunião com um velho companheiro que abalou para o Brasil há duas décadas, o tema era fugir de Portugal.

 

Já não são apenas os jovens recém-formados, mas profissionais qualificados, experientes, com formação superior e provas dadas que pretendem emigrar. Se surgir oportunidade, tê-los-emos espalhados por essa Europa fora, fugindo à miséria estrutural que se instala neste País.

 

Dir-me-ão que o contexto de crise é europeu, não apenas português. Uma meia-verdade, aplicada sobretudo aos países do sul que se aprestam a transformar num gigantesco asilo.

 

Alguém dizia que somos descendentes de Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama e uma nobre estirpe de navegadores, ao que o cínico respondeu: “Está errado. Somos descendentes não dos que partiram, mas dos que ficaram.”

 

Vão ficar por cá apenas os que não conseguirem fugir.

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Esmagado pelo nada.

por Fernando Lopes, 17 Dez 13

Nado e criado o centro da cidade tenho pouca ou nenhuma relação com os subúrbios. Não existe ponta de elitismo da minha parte, simplesmente as amizades, lojas, figuras que conheço, são do centro da cidade, é esse o meu mundo. Estou mais à-vontade em Guimarães ou Arcos de Valdevez que em Gaia, Ermesinde, Rio Tinto, Gondomar ou mesmo na zona oriental da minha cidade. Nunca tive relações nesses locais e a eles quase nunca me desloco.

 

Hoje, por razões que não vêm ao caso, tive de ir a S. Mamede. Enquanto fazia horas resolvi tomar café. Foi um regresso ao passado no seu pior. Mal transponho a porta, um cheiro a bafio que se impregna na pele. Todo o mobiliário parece estar lá desde sempre, suponho que o local não conheça uma renovação desde os anos sessenta do século passado. Duas mulheres na casa dos sessenta tomam pequeno-almoço. Uma está de fato de treino e sapatilhas, com um impermeável por cima. Apesar de o pão estar partido, não o trinca, desfá-lo com a mão em pequenos pedaços que mete à boca. À minha frente a outra mulher, que vejo apenas de costas tem um cabelo não vê água há semanas. Não é oleosidade normal, é desleixo puro e simples, falta de higiene.

 

Chega o dono do café, careca com os poucos cabelos pintados de um preto muito vivo realçando aquela anomalia cromática. Tem um pullover cinzento, decorado de nódoas, bem enquadrado com o ambiente.

 

Único sinal de modernidade dois enormes LCD. Fala uma Maria, astróloga e vidente, que lança as cartas para espectadores que telefonem para um qualquer 760. Quem liga está desempregada e leva logo ali com uma lição de moral “tem de se agarrar ao que aparecer”, “nos tempos que correm qualquer trabalho é bom”, diz a velha pitonisa, certamente discípula da escola filosófica Passos Coelho.

 

Saio quase a correr para a chuva, o peito amassado pelo odor a desespero e passividade que se impregnou naquelas pessoas. Respiro longamente, aliviado. Não deve ser fácil viver esmagado pelo nada.

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Sinais de sucesso do “programa”.

por Fernando Lopes, 12 Dez 13

Morro de cólicas cada vez que ouço Maria Luís Albuquerque referir-se ao “programa”. Raramente se lhe ouviu associar ao substantivo “programa” a palavra “ajustamento”. No reino dos eufemismos a menção da palavra “programa” dá um ar de inocuidade e inevitabilidade às medidas impostas pela troika, como se estas fossem o único caminho possível.

 

Ora, o “programa” é um sucesso, posso garantir-vos. Hoje, numa curta visita pelas lojas, notei que tudo, rigorosamente tudo, está em promoção. O “enorme aumento de impostos” teve como consequência que os portugueses que ainda têm trabalho ficassem privados de 1/14 avos do seu rendimento anual. Não há dinheiro e as empresas fazem promoções a tudo o que mexe. Na Bertrand, 25% de desconto em milhares de livros. A LeYA está com uma campanha de pague 1 leve 2, Zara, Cortefiel e a maioria das lojas de vestuário publicitam promoções de 30 a 50%, e até as empresas de brinquedos, que facturam na época natalícia 70% do total do ano, estão com reduções acentuadas dos preços.

 

Se o objectivo era deixar os portugueses sem cheta e os comerciantes à beira de um ataque de nervos, não há dúvida que o “programa” está a ser um êxito.

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D. Ircília e as gorduras do estado.

por Fernando Lopes, 7 Dez 13

Fez a sua formação na Escola do Magistério Primário e ensinou com dedicação meninos e meninas durante quarenta anos. Casou-se com o ensino, pois nunca se lhe conheceu amante, a sua fortuna resume-se a um T2 na Damião de Góis. Como muitos, anda zangada com o governo e o corte de pensões. E, no entanto, votou naquela rapaz bem-parecido, com voz de tenor, que afiançava que tudo isto ia ao sítio com meia dúzia de cortes nas “gorduras”. Não entendeu ainda a pobre senhora, que ela e a sua pensão são o que eufemisticamente o gaiato designou como “gordura do Estado”. 

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Depois do chicote, a cenoura.

por Fernando Lopes, 16 Out 13

Querida Maria Luís, Ministra das Finanças:


Em primeiro lugar deixe-me dizer-lhe quanto aprecio o ar clean, loiro e europeu com que se apresenta e discorre sobre um OE que modera os ímpetos consumistas do bom povo português, essa troupe de gastadores compulsivos. Mais, gostei particularmente da echarpe vermelha (ou devo dizer encarnada), com que ontem se exibiu. Digna e a fazer relembrar o Pai Natal ao contrário que a sra. Ministra é.


De todas as novidades que apresentou ontem, enterneci-me especialmente com o “sorteio fiscal”, uma espécie de euromilhões dos chibos. Uma vez que a ameaça de multa aos portugueses que não pedem factura não surtiu os efeitos desejados, e até um ex-membro do governo mandou os fiscais “tomarem no cu”, vem V.Exa. assentar o chicote e mostrar a cenoura.

 

Tive várias ideias vintage, como agora se diz, sobre este sorteio que gostaria de partilhar com V.Exa.

 

Quando era criança íamos à Feira Popular no Palácio de Cristal da minha cidade. Já então desregrado e gastador, o pai deixava-me atirar nas barracas de tiro, tentando cortar as serpentinas que seguravam o tão desejado prémio. Ele era verdadeiras loucuras como maços de tabaco, canivetes suíços e ursinhos de peluche. Havia também umas senhas que davam direito a bolinhas saltitonas que nos agradavam sobremaneira. Obviamente, guardei o melhor para o fim. Lembra-se dos chocolates de sorteio? Numa pequena caixa, pagávamos para fazer um furo, e caia uma bola colorida. Conforme a cor ganhávamos chocolates que oscilavam entre o mini e o XXXL. Penso que são sugestões que aceitará como a considerar para premiar os que nas suas horas vagas, resolvam encarnar inspectores das Finanças, solicitando facturas a torto e a direito.

 

Não vou ser vulgar como o ex-secretário de estado da Cultura e recomendar-lhe actividades lúdicas com o fundo da sua coluna vertebral. Com ela, fará V.Exa. o que muito bem entender.

 

Permito-me no entanto comunicar que não irei participar neste circo terceiro-mundista e continuarei olimpicamente a ignorar as facturas que me puserem à frente. No tempo corrente não pedir factura é um activo cívico e até uma forma benigna de desobediência civil.

 

Sou quem sabe, este contribuinte que muito a estima,


Fernando Lopes

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Está mais triste a festa, pá.

por Fernando Lopes, 28 Jul 13

Uma tradição instituída há anos atrás, é ir à festa de Arca D’Água com amigos, jantar pão com chouriço, lambuzar-se de farturas, andar de carrocel, apreçar as peúgas dos ciganos e todas aquelas tretas que se fazem nas festas populares. Adoro festas, tenho uma sopeira aprisionada dentro de mim, consequentemente os concertos de candidatas a Liliane Marise, o comboio fantasma foleiro e os aviõezinhos originários dos anos 60 exercem em mim uma atracção infantil. Gosto e pronto!


Mas este ano a festa está mais triste, pá. As pessoas deambulavam com semblante indiferente, não havia o homem das rifas com aqueles pregões extraordinários, espaços vazios entre as bancas de roupa e sapatilhas fatelas, e, pasme-se, até as farturas estavam em saldo. O ano passado, 6 farturas custavam 5 euros, este anos 8 compravam-se por 6 euros e ainda duas porras de oferta. Pensei na carga simbólica das farturas em saldo e disse para com os meus botões: Que merda, pá. A crise chegou a tal ponto que até as festas populares estão em saldo e o povo circula como zombies. Defenestrem-se os filhos da puta que nos governam. Já não são só maus para a economia, conseguiram roubar-nos o contentamento infantil sempre presente nas festas e romarias.

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Desigualdade Global.

por Fernando Lopes, 24 Jul 13



Dá que pensar quando os 300 mais ricos acumulam mais riqueza que toda a China, Índia, Estados Unidos e Brasil, um total de 3 mil milhões de almas.

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A greve, um mecanismo de luta do Séc. XIX.

por Fernando Lopes, 27 Jun 13

Hoje, não fiz greve. Por medo, mas também por achar que é um modo de luta que deixou de fazer sentido. A greve é tolerada pelo poder, enquadrada num protesto organizado, sob a batuta dos sindicatos e seus controleiros. Não há rebelião, joga-se segundo as regras do inimigo, perde-se um dia de salário, ganha-se pouco mais que D. Quixote lutando contra moinhos de vento. Na Turquia e Brasil o povo está a lutar onde a luta deve ser travada, na rua, desafiando regras e convenções. Vivemos uma guerra social em que os algozes do poder não usam armas tradicionais, desafiam a Constituição e os mecanismos legais. Porque havemos de fazê-lo ordeiramente, como esperam?

 

Uma manifestação convocada pelo facebook fez cair a TSU. Acham que alguma greve conseguiria isso? Vivemos tempos em que o combate ao poder não pode ser feito pelos meios habituais. Querem-me na rua? Lá estarei, como sempre. Querem gritar? Gritarei a vosso lado. Mas não me peçam para ser comportado, previsível, ordeiro e acreditar na democracia parlamentar quando foi essa crença e respeito que nos conduziram a este beco sem saída.

 

Estou a imaginar os Danieis Oliveiras a alertarem para o perigo do anti-partidarismo. São uma versão moderna das nêsperas de Mário Henrique Leiria, continuarão a acreditar até serem tragados na voragem.

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a máquina de destruir portugueses.

por Fernando Lopes, 5 Jun 13


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