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Comida para pássaros.

por Fernando Lopes, 22 Nov 17

Periquitos_xl.jpg

 

Virou moda comer sementes, vai daí somos bombardeados com os benefícios de tudo quanto é semente ou baga. Linhaça, aveia, girassol, ou com nomes mais exóticos como quinoa e goji. Os supermercados têm agora secções saudáveis cheias de painço. Ora tipos como eu só comiam tremoços e amendoins para acompanhar a cerveja. Havia também o arroz, semente de tradição milenar na alimentação humana. Agora comem-se quaisquer tipo de sementes. Dizem os nutricionistas para não ingerimos sementes à toa pois estas têm contra-indicações como flatulência ou oclusão intestinal. Mulherada e hipsters, cuidado, não me apetece levar com o vosso flato. Recordo-me de num vegetariano ter comido almôndegas de lentilhas com a triste consequência de ter largado mais ventosidades que uma vaca argentina. Tá tudo muito bem, mas para este velho do Restelo que vos escreve, sementes ainda são comida para psitacídeos.

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«a Fábrica». Onde menos é mais.

por Fernando Lopes, 20 Mai 17

 

Fabrica1.jpgCopo de «Primavera», produzido in situ.

 

Nas minhas deambulações pelo centro da cidade passeio por uma das ruas que mais se transfigurou nos últimos anos, a da Picaria. Na era pré-Ikea era um bom local para se procurarem móveis baratos. Sobrevive apenas uma loja desses velhos tempos e toda a rua está ocupada por bares e restaurantes. Não tenho pachorra para multidões ou comportamentos de rebanho, pelo que tendo a fugir dos lugares da moda. Passou-se isso com o «Aduela», onde serviam umas magníficas tostas com pesto, invadido por hordas de candidatos a artista. O «Candelabro», no Largo de Mompilher, um alfarrabista dos meus tempos de infante hoje transformado em bar é um local agradável, mas já com excesso de gente. Também já por lá não anda a Mariana, uma jovem que servia canecos com a maior doçura do mundo.

 

Fabrica2.JPG Cubas, bancos, iluminação.

 

Fabrica3.jpgEsplanada para as traseiras da Rua do Almada.

 

 

Tinha visto esta cervejaria artesanal, de seu nome «a Fábrica», e fiquei com vontade de experimentar. Fi-lo hoje. É um local recuperado com bom gosto. Um corredor, mesas encostadas à parede, simples, quente, acolhedor. Passando por onde a cerveja é tirada, existe uma sala mais ampla e uma belíssima esplanada, que dá para as traseiras da Rua do Almada. Um belo local para um fim de tarde com os amigos a beber um copos, deitar conversa ao vento, petiscar. Experimentei duas cervejas, uma produzida no local, de seu nome «Primavera» e a «Super Bock 1927 Bavaria Weiss». A «Primavera» é extremamente suave, com um ligeiro toque de limão. Uma boa cerveja, a um preço mais que módico. A Super Bock tinha um amargor que me pareceu excessivo, muito inferior a uma cerveja alemã comum do mesmo tipo, a Erdinger. Não vos vou falar do fim de boca ou de outras mariquices, o meu palato não é tão sofisticado como o dos que distinguem num cunnilingus entre a a Maria e a Fernanda.

fabrica4.jpgOlhá bela loura.

fabrica5.jpg Pormenor de um candeeiro.

 

Fabrica6.jpgA fábrica propriamente dita.

Fabrica9.jpgA mão que dá de beber a almas sedentas.

  

Uma particularidade da «Fábrica» é que é lá que se produz a cerveja que bebemos. No piso inferior existe uma sala e a fábrica propriamente dita. É depois transportada para duas cubas de mil litros e daí para a barriguinha do consumidor. Sem engarrafamentos, sem sofisticação da treta, sem merdas. A lista das cervejas e dos trincantes é também ela diferente. Duas cervejas produzidas localmente, cinco Super Bocks praemium, pregos, hambúrgueres e linguiça. Local a visitar neste tempo que se aproxima, em particular a esplanada. Quem quer uma lista de cem cervejas com apenas três sabores de base e comida a armar ao carapau deve abster-se. Para os simplórios como eu, consumir sem moderação.

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iscas.jpg Imagem do Tripadvisor ou julgam que ando a fotografar o que como?

 

Pela cidade abundam restaurantes. Na passada semana, por motivos familiares, passei muito tempo – demasiado – no Hospital da Lapa. Pediam por cada refeição 13 euros. Pelo preço e pela vontade de sair daquele ambiente, andei pela zona, testei alguma da restauração existente, o que deu origem a este post. Com a cria, fui a um estabelecimento mais velho que eu, ao qual o avô tecia elogios, a «Rosa das Iscas». Aqui não existe o efeito novidade de alguns locais, nada de sofisticado, apenas e simplesmente comida caseira. No Porto, quando eu era criança, não se usava a palavra patanisca. Se era de bacalhau dizia-se «isca de bacalhau», o mesmo para as de fígado. O estabelecimento é simples, despretensioso, quase rústico, quase coisa nenhuma. Não adianta frequenta-lo pelo ambiente, não vão encontrar o beautiful people da urbe, apenas gente simples que gosta de boa comida tradicional. A petinga tinha bom aspecto, mas decidi-mo-nos pelo que dá nome ao estabelecimento, as iscas ou pataniscas. Cada dose (6 ou 7 euros) é composta por três iscas de tamanho generoso e um fabuloso arroz malandrinho de legumes. As pataniscas são de estalo, a fazer recordar as da minha avó, que é sempre o meu maior elogio. Numa travessa decorada com duas folhas de alface e alguns pickles, ei-las, douradas, quentes, estaladiças. O arroz tinha couve, feijão, cenoura, e vinha a fugir do prato. O serviço é simples, mas rápido e eficiente. Pela cozinha andava um senhora de sessenta e um homem que presumi um pouco mais velho, talvez o proprietário. Sem salamaleques, sem merdas, mas bom. Gostei tanto que já estou a combinar uma jantarada de amigos no local. Se estiverem no Porto e vos apetecer pataniscas, sigam o meu conselho e dificilmente ficarão desiludidos.

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Food for tourists.

por Fernando Lopes, 29 Mar 17

A «barcelonização» a que o Porto e outras cidades nacionais têm sido sujeitas fez com que qualquer cão ou gato se ache habilitado a abrir restaurante ou similar. Tal tem provocado que em muitos dos restaurantes, hamburguerias, pizzarias e quejandos, a qualidade da comida, e principalmente do serviço, seja abaixo de medíocre. Três exemplos recentes: perto do Teatro Carlos Alberto abriu uma hamburgueria moderna. Serve dois mini hamburgueres, opções várias por preço em conta. O conceito é interessante mas, para meu mal, não como conceitos. Demoraram uma hora (sessenta minutos) a servir um menu composto por dois pequenos hambúrgueres e meia-dúzia de batatas fritas, não sem antes me questionarem três vezes sobre o pedido. À terceira, quarenta e cinco minutos passados do pedido original, não me contive:

 

- Ou me traz a porra dos hambúrgueres depressa ou ainda leva com o tabuleiro.

 

Ontem, numa churrascaria da Rua do Paraíso, um menu a armar ao fino, com javali e fófófó. Pedi uma alheira com salada mista. A alheira era do tamanho da pila de um chihuahua, a salada, literalmente a boiar em azeite e vinagre. O preço, uma exorbitância para a qualidade. O empregado de mesa parecia uma versão da «Família Bellamy», no orginal «Upstairs, Downstairs», subindo e descendo as escadas não entendi bem porquê, o elevador da comida estava a funcionar. Suponho que a vergonha o fizesse ausentar-se o máximo de tempo possível.

 

Hoje vou a uma padaria/pizzaria, com o intento de comer uma sandes rápida. Pedi uma americana. Abro o pão e tomate não havia, ovo também não. Chamei o emprego e expliquei-lhe os complexos ingredientes que compõem o que os americanos chamam «sanduíche nacional».

 

Não adianta ter bonitas fotografias da comida e da cidade se não se sabe o que se está a fazer. Mesmo que os turistas de pé-descalço que nos visitam se contentem com qualquer coisa, perde-se o cliente nacional. Não se pode ter uma boa ideia – como a do primeiro restaurante referido – e depois assassiná-la com atendimento e cozinha incompetente. A restauração não é refúgio de amigos, imberbes, criação de emprego para quem não é da área. Ou se é profissional ou se trabalha para atingir níveis de qualidade acima da média, caso contrário é melhor estarem quietos.

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