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O drama da escolha.

por Fernando Lopes, 14 Mar 18

As mulheres – OK, vamos especificar correndo o risco de sevícias – a minha mulher, tem uma dificuldade enorme em escolher o que comer. Quanto mais opções tem, mais se baralha, lendo e relendo o menu até os restantes comensais desmaiarem de fome. Vamos quase sempre ao mesmo restaurante ao sábado. A lista é sempre a mesma, excepção feita à meia-dúzia de pratos do dia. Pois a santinha – que nosso senhor a conserve – lê-o na íntegra todas as semanas como se da melhor literatura se tratasse. No fim escolhe sempre a opção que lhe tinha chamado a atenção inicial, não sem antes percorrer cuidadosamente as noventa e nove restantes. Hoje decidimos pedir pizza. Devia ser fácil, certo? Não. Depois de analisar as 1.001 opções existentes, descobriu que era mais barato e prático pedir três médias em vez de uma familiar. Voltou à estaca zero. Depois questionou-nos sobre cada um dos ingredientes. Confirmou os nossos desejos. Depois, reconfirmou-os. Um processo que deveria ser simples, demorou meia-hora. É só a minha mulher que é assim, ou as senhoras são sempre tão complicadas?

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Sabes que estás casado há 25 anos

por Fernando Lopes, 12 Fev 18

quando acordas, desligas o alarme do telemóvel, e dizes: - Bom dia!

Do outro lado um ser estremunhado olha-te com um olho aberto, outro fechado, e pergunta com alguma severidade:

- Não te esqueceste de lavar as cuecas, pois não?

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Demasiadas escolhas.

por Fernando Lopes, 6 Jun 17

Entro num café e peço um Compal de laranja:

 

 - Laranja grande, do Algarve, Clementina Mediterrânica ou laranja do Brasil?

- Porra homem, sei lá, quero qualquer coisa de laranja. Acha que pergunto às laranjas de onde vêm antes de as comer ou beber?

 

É assim em todo o lado, para qualquer coisinha que se compre existem mil variedades prontas a servir qualquer mania.

 

Tome-se o pão como exemplo. Assim sem grande esforço, qualquer padaria tem pão bijou ou molete à moda de antanho, pão integral, de cereais, de água, milho, girassol, saloio, com nozes, passas, chouriço, queijo, sementes disto e daquilo.

 

O papel higiénico temo-lo de folha simples, dupla, tripla, quádrupla, perfumado, às cores, húmido e com aloe vera para rabinhos sensíveis. O objectivo não é limpar o rabo bem limpo?

 

Coloco-me frente a uma secção de dentífricos e existem pastas de sabor a todas frutas, menta, para dentes sensíveis, gengivas fracas, branqueadoras, protecção completa.

 

Sou eu que estou a ficar velho e sem pachorra ou a diversidade de oferta já chegou ao disparate?

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Piropo matinal.

por Fernando Lopes, 5 Mai 17

Sendo um tipo antigo também tenho uma barba à moda antiga, cresce forte e firme de um dia para o outro. Porque estava a ficar com alergias, decidi escanhoar-me dia sim, dia não. Hoje de manhã levanto-me, fumo o meu cigarro, faço a minha higiene. A minha mulher passa por mim ensonada e murmura uma qualquer saudação. Visto-me, estou pronto para levar a miúda ao colégio. A dona cá de casa olha e exclama com surpresa:

 

- Não fizeste a barba hoje, estás tão feio.

 

Nada como a boa palavra da nossa amada para nos elevar o ego logo pela manhã.

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Hoje, como a cria não tinha aulas, meti um dia de férias para implementarmos a famosa «diálise pai-filha». A mãe deixou-nos uma lista de compras de supermercado. Almoçámos juntos, depois fomos a um centro comercial e finalmente ao Pingo Doce. Após um carrinho cheio de víveres, o rapaz da caixa informa: nesta caixa só pagamento por MB. Era o único cartão que tinha, no stress. Depois de passar tudo pelos apitos, o marmelo diz-me que o MEU MB não funciona. O meu, com chip, contacless e a puta que o pariu. Dórado, como se fosse de um gajo rico. Foda-se, foda-se, foda-se. Ó meu amigo a culpa é da sua máquina, já paguei restaurante, compras, e o raio que me parta e isto funcionou sempre. O sr. desculpe, mas a única solução é anular a compra, levantar dinheiro e passar tudo por outra caixa. Refoda-se.

 

Se quiser eu pago e dá-me em dinheiro, diz a senhora atrás na fila. Obrigado, obrigado, obrigado. Fui a correr a um MB dentro do supermercado, levantei o dinheiro e paguei à senhora que, entretanto, já se tinha chegado à frente. Não sei quem é, provavelmente nunca mais a vou ver, mas obrigado por tudo, sobretudo pela confiança.

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Se algum dia não quiseres o teu marido…

por Fernando Lopes, 24 Abr 16

Vivemos estórias tão inverosímeis que parecem efabulação. Sou amigo há imensos anos de um daqueles casais de namorados de infância que «deram certo». A minha amiga é de Belas-Artes, ele engenheiro informático. Um tipo adorável: é habilidoso, sempre bem-disposto, colabora nas tarefas domésticas, toca guitarra. A antítese deste cão sarnento de raça indefinida que vos escreve.

 

Essa minha amiga tinha uma colega de faculdade completamente choné. Psicótica, com a mania da perseguição, era um desafio que qualquer psiquiatra não desdenharia.

 

Convidam-na para jantar. Ele desdobra-se na sua habitual simpatia, prepara caipirinhas, ajuda no jantar, põe a mesa, sempre com uma piada e sorriso como é o seu jeito. A choné não resiste e observa:

 

- Olha, o teu marido é bem-parecido, jeitoso, colaborante, simpático. Se algum dia não o quiseres, avisa-me, precisava de um tipo assim.

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Mascalzone!

por Fernando Lopes, 24 Jul 15

Nove. Somos nove este fim-de-semana em Arcos. Quatro cunhados, um sobrinho, a sogra, nós os três. Vem também uma amorosa cadela de raça bulldog francês que ressona como uma locomotiva. Uma reunião que promete enorme confusão, caminhadas pelas montanhas, enfardamento pantagruélico, longas noites de conversa com as serras de fundo e um tecto de estrelas. Os Sopranos eram uns frouxos.

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Avô.

por Fernando Lopes, 17 Jun 15

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A breve troca de estórias familiares com a Gaffe e a  admiração que expressei pelo percurso sofrido e feito a pulso do avô trouxe-me à memória factos que julgava adormecidos. Recordo uma visita à secção em que trabalhava e onde, no dealbar dos anos 70, todos os relatórios eram escritos à mão. Vejo-o de colete e manguitos, como um copista, a redigir lentamente e com precisão. Relembro as suas amadas canetas de tinta permanente, instrumento de ganha-pão, que inadvertidamente foram com ele para a cova e hoje repousam juntamente com os seus restos mortais no ossário.

 

Uma infância de rigores marcou-o para sempre. Era um homem discreto que usava o dinheiro com parcimónia. Excepto um ou outro carrinho, os seus presentes eram sempre baseados na utilidade. Foi assim que aos 9 anos me ofereceu um dicionário de Inglês-Português. Como qualquer criança de tão tenra idade manifestei desilusão, procurou aliviá-la com a dedicatória acima. Era assim o avô.

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«Mas ele foge, irreversivelmente o tempo foge»

por Fernando Lopes, 21 Mai 15

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Remexo na carteira à procura de papéis velhos, cartões sem préstimo, talões de compras, vinhetas expiradas de seguros. Encontro esta fotografia, velha de dez anos, e detenho-me a pensar como o tempo passa de modo quase imperceptível. Isto foi ontem, no entanto a bebé que está ao colo já fez dez anos. Recordo-me vivamente de como adormecia deitada sobre a minha barriga ao som de um DVD dos Placebo ao vivo em Paris. «Mas ele foge, irreversivelmente o tempo foge», já o sabia Virgílio.

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Ontem, foi assim.

por Fernando Lopes, 17 Mai 15

Lavra.jpgDar um passeio junto ao mar, acompanhados pelo omnipresente vento do norte.
.lavra2.jpgAdmirar tia e sobrinha a brincar ao «molha o pé e foge».

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