Diário do Purgatório © 2012 - 2014
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"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better."
por Fernando Lopes, 11 Set 18
A sociedade inteira anda obcecada em ser jovem, ou pelo menos aparentá-lo. É humano que cada um tente ter o melhor aspecto possível, alimenta o ego, a auto-confiança, mais do que isso, é muitas vezes um elemento facilitador para estabelecer relações pessoais e profissionais. Contra mim falo, há mais de dois anos que restrinjo as calorias que ingiro para não ter um ar pesadão. Vejo tipos bem passados dos cinquenta a pintarem os cabelinhos de preto, outros ainda a escolher fatos slim fit onde parecem prestes a explodir, alguns que tomam banho em perfume para animar o nariz e tapar a vista das senhoras. Meus amigos, vamos ter em conta um pequeno pormenor: Facto - não somos os tipos que éramos, a maioria de nós envelheceu muito, engordou, perdeu cabelo ou este mudou de cor. Facto – não é por andarmos com fato dois números abaixo do nosso, pintarmos o cabelo ou banhar-mo-nos em leite de burra que a coisa vai melhorar. Facto – a vitalidade vai esmorecendo, o tempo que tínhamos sexo três ou quatro vezes no mesmo dia já lá vai, é melhor assumir que as actividades fodengas são mais escassas porque o corpo, que não a vontade, já não são o que eram. Vamos deixar de tentar parecer gajos de trinta quando temos cinquenta. Chegados a esta provecta idade, vamos defendê-la com uma em que ainda valemos muito, senão pela estética, pela alegria, boa disposição, capacidade de fazer rir de nós e dos outros. Pode ser?
por Fernando Lopes, 21 Mai 18
Como portuense e portista interessa-me pouco a questão Sporting, Olhando friamente, a crise não é do Sporting, é de uma sociedade em que o único valor é vencer. Importamos lixo alimentar dos EUA e estamos a valorizar modelos que não eram os nossos. A dicotomia winners/loosers ou vencedores/vencidos, sempre me pareceu de um reducionismo atroz, até porque, as mais das vezes, somos vencidos e não vencedores. Quando o teu marido ou mulher te deixou, foste vencedor ou vencido? Quando a promoção no emprego foi para o lambe-botas, ganhaste ou perdeste? Quando no fim do mês tens 100 ou 200 euros na conta, em que categoria te classificarias? Não interessa tanto se ganhas ou perdes, mas se jogas com empenho, honestidade, entusiasmo. Às vezes sai-nos tudo bem, outras nem por isso. Valemos menos por ter tentado? Há muito mais que vencer ou perder, a vida, o desporto, é muito mais que isso, é uma coisa tão simples como lutar com dignidade. Uma sociedade que merece o meu aplauso é aquela que apoia os que estão em baixo e aplaude os que ganham. Sem hipocrisia, com carácter, sabendo bem que ora estamos num lado, ora no outro.
por Fernando Lopes, 29 Jan 18
Há dias em que sobre mim paira uma nuvem cinzenta, carregada de chuva, raios e tormentas. Ontem foi um desses dias, em que o breu ofusca a luz. Valem-me amigos leais, almas carinhosas, que insistem em me empurrar para lá do óbvio, seja com palavras amigas ou com inconformismo exclusivo de almas generosas. Soindes quem me baleis, como se diz por aqui.
por Fernando Lopes, 15 Dez 17
Dizes a verdade mesmo quando ela é inconveniente.
Não gostas de jogos de palavras, preferes chamar os bois pelos nomes.
Achas que lealdade é mais importante que obediência.
Não pensas que dinheiro ou status definam o que é essencial numa pessoa; a sua humanidade.
Continuas a desejar utopias.
Não te adaptas a situações «sociais».
Evitas mentir e até as mentiras piedosas te são custosas.
Estás permanentemente insatisfeito contigo e com os outros.
Tens grandes exaltações e enormes angústias.
Dizes palavrões, ris alto, piscas o olho com malandrice.
Adoras beber, rir, cantar.
Atenção: és um tipo excessivo, tens o coração perto da boca, melhor pores-te no teu lugar.
por Fernando Lopes, 21 Nov 17
Será que somos o resultado da soma dos nossos sonhos subtraídos das nossas desilusões? Uma operação aritmética como balanço de vida parece-me muito redutor. Sendo um ser que raramente se contenta, recuso-me a fazer estas contas. Provavelmente aprendi mais com as desilusões, mas o que me faz caminhar em frente são os objectivos alcançados. Venci e perdi número suficiente de combates para saber que o que mais importa é a garra com que se luta, a convicção na justeza da nossa causa. Venho a descobrir que, muitas vezes, dar é mais importante que receber. Quando damos – um carinho, ajuda financeira, uma boa palavra, pouco importa – viaja para o universo um bocadinho de nós. Faço diariamente um esforço para ser honrado, justo, digno, generoso. Não em nome de uma qualquer recompensa monetária ou divina, mas por pensar que é assim que deve ser. Estar consciente desta obrigação de dar o melhor de mim é o que me faz correr. Com a certeza de que raramente serei a pessoa que ambiciono, continuarei a tentar.
por Fernando Lopes, 31 Ago 17
Cinquenta e quatro anos feitos, quando me perguntam o que em mim mudou tenho de admitir que nada de essencial. Talvez tenha o coiro mais curtido, um pouco menos de impulsividade, maior capacidade em admitir que errei e pedir as respectivas desculpas. Continuo dominado por uma ética restritiva e uma certa inocência. Inocente no sentido de intocado, como uma gota de água que cai numa poça. Gera-se momentaneamente movimento, círculos concêntricos, mas logo tudo volta ao que era. Existe em mim uma profunda aversão a fazer o que é errado, a maltratar os outros, a enganar alguém mesmo que isso me traga proveito evidente. Não é auto-elogio, apenas a constatação de que uma educação rigorosa em termos morais me transformou em prisioneiro desse labirinto. Talvez por isso nada me faça feliz. Faço simplesmente o que tem de ser feito, e o facto é apenas uma nota de rodapé na minha estória. Será talvez essa a razão porque nunca roubei, tão-pouco traí. Sem deus nem mestre, vergam-se-me as costas sobre esta cruz moral que me puseram na infância, que não poucas vezes se me parece mais albarda que crucifixo.
por Fernando Lopes, 27 Ago 17
Publicidade, media, comunicação, impingem-nos constantemente um mundo perfeito, de imagens perfeitas, casas perfeitas, pessoas perfeitas, comidas perfeitas, como se a perfeição não fosse apenas a excepcionalidade que define o comum. Essas imagens de laboratório, de gente bonita, perfeita, não existiam à minha volta. Sentei-me na areia, observando quem passava. Vi miúdos gorduchos a rebolarem felizes na areia, pais ventrudos, carecas, sorridentes. Mães com celulite, rabos enormes, que quando se sentavam a construir castelos na areia faziam regueifas na barriga. Casais de idade que caminhavam lado a lado. Eles com os calções demasiado subidos, a tapar o umbigo, as senhoras com fatos de banho comprados nos anos 80. Gente normal, imperfeita. Ri-me deles, de mim, e com esse riso fiquei estranhamente apaziguado. Era apenas um tipo normal entre gente normal.
por Fernando Lopes, 13 Ago 17
Olho ao meu redor e invejo-os, a eles, às suas vidas normais, às suas mulheres anafadas, aos filhos com ar de parvo, corte de cabelo estranho e Playstation na mão. Invejo-lhes o BMW em segunda mão, as férias em Quarteira, o polo aperreado a salientar a pança. Queria que a minha única preocupação fosse a derrota do Porto, aceitar tudo, não questionar nada, não ter angústia, desconforto, insatisfação permanente. Depois olho para as minhas mãos, permanentemente transpiradas. Assim desde sempre. Entendo que esse estado estranho de aflição é a minha natureza. Sorrio, porque sei que sentir-me mal é o meu modo de me sentir bem.
por Fernando Lopes, 5 Jul 17
Já não persigo sonhos pueris de riqueza ou sucesso. Materialmente tenho mais que a maioria, por certo quanto me baste. A minha medida de felicidade mede-se em amar e ser amado. Amor fraterno, filial, de uma mulher. Pensava hoje em voz alta em como tudo se resume a ter barriga cheia, tecto onde não chova, amor a rodos. Tão pouco e tão inalcançável. Ter um colo onde descansar de dias intermináveis. Aceitar e ser aceite sem restrições. Coisas banais bem sei, que no entanto nos fogem, me fogem. Melhor que desistir, morrer tentando, pois o dia em que desistir será o dia em que desapareci mesmo que ainda esteja vivo.
por Fernando Lopes, 22 Jun 17
A minha avó foi a minha mãe. Tinha coisas muito suas, uma vontade férrea, um jeito rude, uma generosidade fora do comum. Cuidou de mim como se me tivesse saído do seu útero, justificava-o com o adágio «parir é dor, criar é amor». Esperou que nascesse a bisneta para morrer, nunca iria sair deste mundo sem antes acarinhar «a menina». Como se tivesse a certeza que me tornaria um pai competente, desistiu quando entendeu que era hora. Tenho de ir ao cemitério para juntar os seus ossos aos do avô. Sei que gostaria disso. E no entanto falta-me a coragem. Porque assim que estiver no ossário sei que terei de admitir que morreu. Até agora encarei a sua ausência como se de uma viagem se tratasse. Deixará de ser assim. Dá-me coragem, avó. Dá-me aquelas palmadas suaves, o mais próximo de um carinho que te permitias. Dá-me aqueles teus olhos azuis a sorrir. Dá-me força.
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O Pretinho do Japão é citado, como profeta, em Ram...