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Artie Lange.

por Fernando Lopes, 1 Set 14

Conhecia-o apenas de filmes cómicos e fiquei extasiado a assistir a uma entrevista num qualquer «Late Night Show» americano. O homem, além de cómico portentoso, viveu tudo: drogas, álcool, sexo, jogo, depressão, tentativa de suicídio. Riu-se de si mesmo com uma vontade de que só os grandes são capazes. Estava a fazer a promoção ao livrito «Crash and Burn», um título que em si mesmo é um tratado. Não resisto a contar uma das pequenas estórias com que brindou a audiência:

 

Artie era frequentemente convidado para actuar em casinos de Los Angeles, entre várias razões além do seu talento, o facto de ser um jogador compulsivo, que recebia 100.000 USD de cachet e gastava 104.000 em jogo, drogas, meninas e bebida. Uma noite colocaram-no numa suite de luxo com duas belas prostitutas a acompanhar. Nos preliminares Artie tem uma vontade enorme de ir à casa de banho. Em cima de uma mesa o cachet, pó e diversos. Tinha medo de ser roubado pelas prostitutas, mas não as queria ofender mandando-as para fora do quarto. Para estranheza das profissionais pediu-lhes que batessem palmas enquanto passava pela sanita. Ninguém consegue roubar enquanto está a bater palmas. Acederam com relutância, e lá ficaram enquanto se aliviava. Confessa:

 

- Foi uma das sensações mais bizarras da minha vida. Saio a apertar as calças e lá estavam elas a bater palmas. Senti-me como um miúdo quando está a fazer «treino de sanita» e a mãe o felicita por fazer chichi no local certo.

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Parabéns, Manuel Jorge Marmelo.

por Fernando Lopes, 20 Fev 14

Há dois ou três escritores que me encantam tanto pela sua obra como pelo ser humano que são. Manuel Jorge Marmelo é uma dessas pessoas, de quem um amigo comum, jornalista na Antena 1, teceu enormes elogios como escritor e homem. Não basta ser bonito por dentro, é também imperativo ser bonito por fora, uma boa pessoa. Trocámos palavras de circunstância numa manifestação em defesa da Escola da Fontinha. MJM certamente não se recordará, mas estava lá, confrontando o poder instituído, lamentando a falta de unidade da esquerda. Parabéns Manuel Jorge, este prémio é a prova que a integridade, os homens que não se vendem, ainda são reconhecidos no meio da ruína vigente. 

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Luiz Pacheco e a morte.

por Fernando Lopes, 5 Jan 14

Naquela altura morria muita gente de tuberculose, hoje é de cancro ou do coração, morre-se de qualquer coisa, tanto faz, vivemos entre mortos, gente que vai morrer e sabe que vai morrer e gente que já morreu, gente morta ou provavelmente morta ou morta daqui a bocado, amanhã, hoje ainda talvez, morte súbita, morte zás! e adeus… os mortos caem em todos os lados, caem-nos em cima, apertam-nos, já não metem medo, são tantos, há muitos, há cada vez mais companhia de mortos, tornam-se maçadores, abafam o ar. Aparecem-nos às vezes com um sorriso, fingem bem, mas debaixo dos fatos vem um cheiro que não engana, os olhos são vazios e lúcidos, já não querem ou esperam nada, estão mortos por detrás da gravata.
(…) Vamos criando distâncias pela vida fora, vamos morrendo uns para os outros. E também vamos morrendo dentro de nós. Dou os bons-dias a tipos que já matei; passo na rua por alguns satisfeitos fantasmas que se espantam (gritam-me: Ó pá, inda és vivo?) quando me vêem respirando e mexendo dentro da minha farpela pobre. Dormi mais de dez anos com o cadáver da minha mulher e na mesma cama. Jamais nos conhecemos, fomos sempre dois mortos um para o outro. São coisas que acontecem.

 

In "O Teodolito"

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Rothko.

por Fernando Lopes, 17 Set 13

 

A minha capacidade de olhar é tal que os meus olhos acabarão por consumir-se. E este desgaste das pupilas será a doença que me levará a morrer. Uma noite olharei tão fixamente na escuridão que acabarei dentro dela.

 

Mark Rothko

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mais um dia em Portugal

por Fernando Lopes, 22 Set 12

Ah, o tempo. Oh, este tempo.
Para que servem os dias?
Para nos acordar, para colocar entre noites intermináveis.

 

E, entretanto, em todo o lado, cheques são devolvidos e contas bancárias são automaticamente fechadas.
Passwords expiram.
E todos fazem contas, comparam e prevêem.
Será o melhor dos tempos, o pior dos tempos, ou apenas um tempo?

 

 

adaptação minha de um poema de Laurie Anderson


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Comunicado

por Fernando Lopes, 30 Abr 12

Na frente ocidental nada de novo.

O povo

Continua a resistir.

Sem que ninguém lhe valha,

Geme e trabalha

Até cair.

 

Miguel Torga

 

Poema oferecido pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto nas comemorações dos 38 anos do 25 de Abril.

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A grande arte produz-se de barriga vazia

por Fernando Lopes, 6 Mar 12

Vítor Lança

A ideia de que ser artista não é um modo de vida, antes uma fruição para ser partilhada à borla, é uma ideia peregrina que parece ganhar renovado vigor em tempo de crise. Vem esta prosa a propósito de um prémio atribuído ao jovem artista plástico André Lança. Concorreu e venceu a XVII Galeria Aberta, que decorreu em Beja. Pela obra acima deveria, e digo deveria, ter recebido um prémio pecuniário de 1.600 €. Não lhe pagam com a habitual desculpa, "problemas de tesouraria". Tem o vereador da cultura o desplante de afirmar "A câmara vai continuar a apoiar os artistas locais, mas só paga quando tiver dinheiro. Mas se os artistas não quiserem colaborar nestas condições, digam e nós deixamos de contar convosco". É assim mesmo, o artista quer-se miserável e subjugado. Todos sabemos que a pobreza é muito mais criadora do que a opulência.

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"cisnes reflectindo elefantes"

por Fernando Lopes, 8 Fev 12


Uma improvável parceria entre John Hench (Disney) e Salvador Dali, ao som dos Pink Floyd. A história toda no bitaites.

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Rumble Fish

por Fernando Lopes, 20 Jan 12


Um dos filmes da minha vida. Sobre um mauzão que já o não é, um irmão obcecado em seguir as pisadas do mais velho e de como o espaço [entenda-se liberdade, autonomia] é necessário para nos encontrarmos. Num filme a preto e branco quando isso era mais do que vanguarda, com Mickey Rourke, a quem sempre invejei o aspecto físico, mas sobretudo o ar cool. Coppola num dos seus momentos mais altos. Como diria Lauro António, let's look at a trailer.

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Tempo

por Fernando Lopes, 11 Jan 12

Havia um casal, casado há muito, muito tempo, que sempre se tinha odiado, nunca capazes de se suportar um ao outro.
E quando estavam já nos noventa, resolveram finalmente divorciar-se.
E as pessoas perguntaram: Porque é que esperaram tanto tempo? Porque é que não se divorciaram antes?
E eles responderam: Bem, queríamos esperar até que as crianças morressem.


Adaptação de "Another day in America" de Laurie Anderson

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