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Pudesse Eu Contar as Vezes

por Fernando Lopes, 1 Abr 15

Pudesse eu contar as vezes que ferrei os cantos da boca imaginando que eram teus os dentes que assim me amavam; que eram os teus lábios aqueles que, nessas ocasiões, eu mordia. Lembras-te de uma frase que costumavas citar, por tê-la escutado em qualquer parte, ou lido, já não sei bem? Aquela que dizia
- A minha anatomia enlouqueceu; sou toda coração.
Pois é como me tenho sentido, mais ou menos assim, com a anatomia enlouquecida, sem saber já quais são os meus dentes ou qual a minha boca; como se cada pedaço meu não fosse mais do que saudade de ti: o desejo de te voltar a ver, de te cobrir outra vez de beijos - olhos, boca, rosto, o corpo todo de beijos -, de te abraçar e sentir o teu cheiro, de tomar nas mãos o ramo crespo dos teus cabelos e inalar a fragrância do teu pescoço. Possuo agora, em mim apenas, nos limites da minha topografia, toda a exaltação dos nossos corpos e sinto que não chego para tanto porque a soma de nós dois excedeu sempre a existência física dos nossos corpos. É como se rebentasse por dentro e tivesse de esticar a alma - ou lá o que é - para me ser possível reter ao menos um pouco do que daí sobrou.

 

MANUEL JORGE MARMELO, «O AMOR É PARA OS PARVOS»

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É complicado.

por Fernando Lopes, 21 Out 13

Como a maioria de nós, vi o primeiro “Big Brother”, e desinteressei-me pelas sequelas. Existia uma certa candura da primeira vez, pois os protagonistas, fechados numa caixa, desconheciam que se haviam tornado “celebridades” a nível nacional, a ponto as suas peripécias adiarem uma comunicação do Presidente da República. Hoje, pela segunda vez em vários anos, assisti a um momento fascinante, a precisar de tradução simultânea. É assim: na casa existe um rapaz que já foi rapariga. Hoje tem barba, pendentes e tudo e tudo. Namorava com uma rapariga enquanto ainda era anatomicamente do sexo feminino. Separaram-se. A moça (a que nunca mudou de sexo), certamente atraída pela popularidade do programa, foi lá pedir o rapaz que era rapariga em casamento. Ele hesitou, e depois respondeu positivamente. A rapariga que sempre foi rapariga e que pediu a ex-fêmea  em casamento, lembrou à apresentadora que não gostava que lhe lembrasse que o seu companheiro já tinha sido mulher. Vi toda esta ópera bufa, siderado. Deve ser para casos como este que inventaram o status afectivo no facebook “É complicado”. 

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