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Segredo.

por Fernando Lopes, 5 Mar 16

- E agora sabe? – Andrews agitou-se incomodamente. – A juventude – observou desdenhosamente. – Julgam sempre que há qualquer coisa a descobrir.

- É verdade, senhor.

- Pois bem, não há nada – tornou McDonald . – Uma pessoa nasce, é amamentada na mentira , é desmamada na mentira e aprende mentiras mais elaboradas na escola. Vive toda a vida na mentira e mais tarde, porventura quando está presteS a morrer, descobre que não há nada, nada a não ser ela própria e o que poderia ter feito. Só que não o fez porque as mentiras lhe disseram que havia outra coisa. Nessa altura percebe que poderia ter todo o mundo, porque é a única pessoa que sabe o segredo só que então já é tarde demais. Já é demasiado velho.

in «BUTCHER'S CROSSING« DE JOHN WILLIAMS 
 
 

Por muita crueza e desilusão que esta citação comporte, é bem o espelho de um homem confrontado com a sua circunstância. Somos o que fizemos, não o que sonhamos fazer. Vem um travo amargo à boca, um cerrar de dentes, um fúria interior que me aconselha: vive, vive tudo enquanto é tempo.

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9 comentários

De Lucília a 05.03.2016 às 23:14

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

De golimix a 06.03.2016 às 13:06

Dolorosamente verdadeira a citação.

Viver sem ilusões e sempre sabendo que cada minuto pode ser o último. Enganamo-nos a pensar que somos imortais e tentamos, em vão, não pensar que a morte nos virá buscar, mais cedo ou mais tarde ela virá! É, pois,  melhor desenganarmo-nos e começarmos a viver como se cada minuto pudesse ser o último, porque a realidade é mesmo essa!

De Fernando Lopes a 06.03.2016 às 14:28

Mais do que as ilusões, dói esta percepção que a sabedoria que nos chega com os anos maduros é inútil por tardia. Sinto isso cada dia da minha vida. 

De Ana A. a 06.03.2016 às 16:21


"Somos o que fizemos, não o que sonhamos fazer."

"...a sabedoria que nos chega com os anos maduros é inútil por tardia."
Fernando, eu tenho uma visão um pouco menos pessimista.
Confrontando as ideias das frases de cima, podemos concluir, que apesar de termos vivido cercados de mentiras, conseguimos construir o nosso caminho, de tal forma, que acumulamos sabedoria. Essa sabedoria é o fruto das nossas vivências e apesar de não nos servir para voltarmos atrás no caminho e recomeçar, é a constatação que ainda que voltássemos ao ponto inicial com essa bagagem, no percurso iríamos sempre acumular mais-valias, e no final, mais uma vez o saldo era mais sabedoria...Ou seja, viver não é necessariamente concretizar sonhos. Viver é essencialmente sonhar, sempre e mais, para além do real!
Deixo-lhe um pensamento, que dizem ser oriental: "Volta o teu rosto sempre na direcção do sol, e então as sombras ficarão para trás."

De Fernando Lopes a 06.03.2016 às 17:13

Sempre admirei o seu modo de encarar a vida, com uma tranquilidade e bonomia que sempre me faltou. É certo o que escreve, como tão certo é não ser da minha natureza acumular essa calma e sabedoria, investindo sempre, como toiro cego pelo vermelho.


Beijo. 

De pimentaeouro a 06.03.2016 às 20:01

Infelizmente, ou não, não existem manuais de instruções para saber viver.
Sabemos o que aprendemos e enquanto vivemos não olhamos para trás para pensar e reflectir. Isso só aprendemos, quando aprendemos, na velhice, não tem volta.

De Fernando Lopes a 06.03.2016 às 21:59

Parece-me que o autor concorda consigo, ou o João com ele, já nem sei bem.

De Sónia Pereira a 07.03.2016 às 10:54

Ainda não li este livro do Williams mas é incrível como uma pequena citação me conseguiu transportar para a emoção que senti ao ler Stoner. É a forma crua, despida de preconceitos e fantasia como ele analisa as personagens e circunstâncias de vida e como isso funciona como um espelho que ele nos esfrega na cara, obrigando-nos a observar o que lá está reflectido. E nem sempre o que observamos é lá grande coisa.
Espero ainda ler este livro este mês.

De Fernando Lopes a 07.03.2016 às 13:16

Este é um romance diferente, uma história de cowboys, ou melhor, a pretexto de cowboys. Visualmente é muito mais rico que «Stoner», a nível emocional muito menos impactante. Na minha opinião o narrador é o pretexto mas não a personagem principal do livro, que é Miller. É um bom romance, mas não se iluda, infinitamente menos forte que «Stoner».

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