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Rejeição.

por Fernando Lopes, 20 Fev 16

Lido mal com rejeição. Fui rejeitado aos três meses de idade pela mãe que preferiu estar junto do pai a tratá-lo de uma úlcera deixando-me a cargo da avó, que me acolheu como seu, e onde vivi até sair de casa. Quando o pai morreu, essa mesma mãe disse entre dentes que preferiria ter perdido um filho. Podem tentar encontrar atenuantes, atribuir o desabafo à dor do momento. A mim também me doeu. Ainda dói. Certamente por isso lido mal com rejeição. Amigo ou amor só me recusa uma vez. Não há segunda oportunidade, carrego este fardo desde que me conheço. É-me demasiado pesado para acumular com outras negações.

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13 comentários

De alexandra g. a 20.02.2016 às 21:05

Leio este desabafo, que é também uma afirmação consistente, e é de tal modo penosa, a leitura dos factos, que as circunvoluções resvalam para a tentação de considerar tamanha história uma ficção bem urdida sobre a rejeição.


Lamento por si mas, lendo-o com alguma frequência e sabendo que tenta esmerar-se como pai, parte deste relato magoado vê limadas muitas das arestas, não todas, isso seria impossível, sim.


Se me permite, fica um abraço pela resiliência (está lá, é visível).

De Fernando Lopes a 20.02.2016 às 21:20

Um vez que este é um blogue pessoal e confessional, digo-lhe que me custou mais em adulto que em criança. Quando miúdo vivia em casa da avó e ia para os pais ao fim-de-semana, era uma rotina tolerável, às vezes divertida. O pai morreu com a minha idade (52) e já a trabalhar, independente, com 25 anos, a verbalização da mãe de que teria preferido perder um dos filhos nunca me saiu da cabeça. Nunca. 


Talvez por isso, ser melhor pai que o que foram comigo era uma inevitabilidade.


Abraço. 

De redonda a 21.02.2016 às 01:13

A avó é que terá sido mãe.
um beijinho e boa-noite

De Fernando Lopes a 21.02.2016 às 12:06

E foi a melhor mãe que poderia ter ambicionado. De uma forma estranha está comigo o tempo todo.

De Lucília a 21.02.2016 às 10:02

Este "bateu".Tenho aqui iguais no word só para mim tenho pudores quase nunca desabafei.Para apaziguar escrevo, para sobreviver fui forte a julgar.me fraquinha.Não deviamos ser tão complexos mas faltando ali umas porquinhas no fabrico é o caraças.E sim, é isso mesmo (nunca tinha relacionado) se faltar pureza vão sem volta.
Mas pense os pais nem sempre foram tão próximos dos filhos.


De Fernando Lopes a 21.02.2016 às 12:14

Ter um blogue é uma forma de catarse. Estão aqui muitas das minhas alegrias, tristezas, paixões. De algum modo é uma terapia sem recorrer a psicólogo. 
Nas últimas gerações muito mudou na maternidade/paternidade, felizmente. 

De emanuel lopes a 21.02.2016 às 10:12

Caro Fernando Lopes,

entendo-te perfeitamente, pois por circunstancias diferentes, também eu fui criado pela minha avó. Essa minha avó que marcou-me o caráter e a pessoa que hoje sou, pois sempre me disse que deveremos ser humildes, mas nunca deixar que nos humilhem... daí o mau feitio que tenho.
És um excelente ser humano.
Continua a ser forte
um abç
emanuel

De Fernando Lopes a 21.02.2016 às 12:21

Meu caro,
Criamos defesas para tudo, muitas vezes não se perde o melhor, perde-se o pior. Ter sido criado pela avó foi uma bênção. Criei um espécie de ostra que me protege do que não gosto, uma forma de resistência como qualquer outra.


Grande abraço.

De Lucília a 21.02.2016 às 20:16

Sim, parece.me bem,mesmo..Mas diga.me Fernando exatamente o que o conforta ao publicar? Nós, eu incluida, quem somos? Estranhos,umas linhas, uns leitores .diga.me, porque se sente apaziguado.?

De Fernando Lopes a 21.02.2016 às 20:54

Não sei. Liberto as palavras e depois já não é nada comigo, como se estas não tivessem sido escritas por mim. É reconfortante quando as pessoas gostam, interagem, apoiam, mas não é fundamental. 

De Lucília a 21.02.2016 às 22:50

Sei -nós (humanos)...no nosso melhor 

De pimentaeouro a 22.02.2016 às 11:23

É uma declaração corajosa, poucos ousariam faze-la.
Diz o povo que à males que vêm por bem.
Por motivo diferentes também foi educado pela minha avó, fui órfão de país vivos.
Levei décadas a superar o trauma.

De Fernando Lopes a 22.02.2016 às 12:41

Ainda não estou seguro que tenha superado o meu, João.

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