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Recordações.

por Fernando Lopes, 13 Jan 16

Recordo não querer sair da barriga da minha mãe, lutar sete horas para não vir ao mundo, nascer com a cara queimada pelo meu vómito. Recordo agarra-me às cortinas e pontapear violentamente quem se aproximasse quando o pai, meia-dúzia de anos passados, me quis de volta para casa como se fosse um bibelot humano pronto a limpar consciências sujas. Recordo-me do primeiro dia de escola, levado pela mão e do esforço que fiz para não me mijar de medo. Recordo a primeira vez que fiz amor, o misto de espanto alegria, medo, o sangue, a excitação partilhada. Recordo o primeiro dia de trabalho, os modems, colegas, chefes. Recordo ter morrido várias vezes, uma de morte tentada, outras de morte sonhada. Recordo pessoas que só vi uma vez e esqueço as que comigo se cruzam todos os dias. Recordo o bebé albino em S. Tomé, carregando consigo maldição eterna. Recordo a minha filha a nascer, o anestesista a empurrar-lhe os pés, a cabeça a emergir por entre o golpe. Recordo amigos e inimigos, os que vivem e os que morrem, os que sonham e os que vegetam. Recordo-me de tudo, uma espécie de castigo permanente, praga que me acompanha há tempo demais.

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2 comentários

De Maria Manel a 15.01.2016 às 13:48

Desde que te conheço - e já vai um tempito - tentas resolver (e responder também) no teu interior, a todos os conflitos e dúvidas, quaisquer eventuais problemas ou até viver as alegrias.
Sempre sózinho, vais servindo de alicerce ao teu próprio edifício, o que é visivelmente uma redundância dolorosa.

Digo-te, que sendo portador de uma consciência tão bem formada, os teus primeiros nove meses de vida não foram passados em solidão, mas bem acompanhado por quem
nos forma a todos moralmente, desde o primeiro dia.
E mais não acrescento, este campo de ideias é inexistente para ti...
Bj

De Fernando Lopes a 15.01.2016 às 19:29

Manel, é precisamente um problema de alicerces. O meu edifício é a minha torre de Pisa privada e não vejo jeitos de o pôr direito. ;)


Beijo

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