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Quando a cabeça brinca contigo.

por Fernando Lopes, 1 Nov 15

É facto conhecido que nos idosos a memória de longo prazo, por mecanismos certamente cientificamente explicáveis mas para mim desconhecidos, se torna mais vívida. Não esperaria aos cinquenta e dois anos estar a experienciar uma senilidade precoce. Certo é que nos últimos tempos velhas memórias me surgem com uma nitidez inexplicável. Tenho sido acometido de clarões de cenas antigas com uma proximidade assustadora. Desde pequenas coisas da infância, os mimos da avó, antigas e não tão antigas situações amorosas, estes flashes estão aqui, cada vez com mais frequência. Tenho recordado velhos amigos que faleceram em circunstâncias trágicas como se tivéssemos conversado ontem, num estranho movimento circular em que passado e presente parecem uma e a mesma coisa. Recordei o Ilídio, tragicamente falecido com uma overdose, o Mário e o Paulinho desaparecidos em acidentes. Estavam ali, vivos, presentes, como se o tempo, a sua morte trágica, fosse nada. Recordei a avó e os seus vivíssimos olhos azuis, subindo Álvares Cabral com as compras na mão e o habitual sorriso maroto; recordei cenas de amor adolescente, momentos de paixão em que o coração nos quer saltar peito fora; o pai no escritório, entre os seus livros, perdido entre as telas e pincéis que tanto amava.

 

Como diz a expressão inglesa «a minha cabeça prega-me truques», surpreende-me, torna o tempo uma insignificância. Senilidade? Saudosismo? Tempo de balanço? Não sei.

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12 comentários

De Linda Blue a 01.11.2015 às 13:28

Estou na mesma. E não sei o porquê, também. Para já, ainda ando pela época da escola primária e entrada no liceu.
Bom domingo, Fernando.

De Fernando Lopes a 01.11.2015 às 13:41

Estamos num processo de senilidade precoce ou simplesmente atraiçoados pela memória? 
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De Linda Blue a 01.11.2015 às 13:46

Ou ambas, ou nenhuma...
Também podemos estar no auge da pujança, em termos de memória e registos, e capacidade para os reter e rever. Quando nos esquecermos de tudo é que é a tal senilidade.
(Temos que nos agarrar a uma desculpa qualquer :))

De Fernando Lopes a 01.11.2015 às 13:54

O raciocínio é retorcido, mas como desculpa é excelente. :)

De Linda Blue a 01.11.2015 às 14:28

Raciocínios retorcidos, mais um sinal de que o tempo passa...? :)

De Ana A. a 01.11.2015 às 15:05

Eu inclino-me mais para o "tempo de balanço", ainda que inconsciente. Mau seria, se essas impressões nos abandonassem para sempre! :)

De Fernando Lopes a 01.11.2015 às 17:19

Uma das suas grandes qualidades é ter uma perspectiva positiva do mundo e das coisas. Causa-me uma saudável inveja. :)

De pimentaeouro a 03.11.2015 às 22:47

Certamente não deve ser senilidade , ainda é cedo para isso. Talvez caprichos da memória que deve ser a coisa mais retorcida que temos dentro da cabeça. Isto digo eu que não percebo nada de memórias.

De Fernando Lopes a 04.11.2015 às 00:12

Não percebemos muito de memórias é verdade, mas é como se fossem um vida paralela, às vezes longe, outras tão perto que parece que aconteceram ontem, não acha? 

De João Gonçalves a 04.11.2015 às 23:46

Certo, mas é preciso cuidado porque a dama é muito caprichosa, omite, deturpa, fantasia, etc.

De redonda a 04.11.2015 às 20:21

Ainda não me aconteceu, mas gostei da ideia que possa suceder - como a demonstração de que não as perdemos, que as memórias estão em nós, mesmo que fechadas em gavetas.

De Fernando Lopes a 04.11.2015 às 20:52

Comigo tem sido assim. Abrem-se quando menos esperamos. 

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