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Por tua causa ando a alugar o bacalhau.

por Fernando Lopes, 30 Set 16

Hora de almoço. Enquanto me dirijo para o trabalho, uma profissional do amor caminha atrás de mim e discute acaloradamente com o seu empresário ao telemóvel. O linguajar da senhora é intenso, e reparem, estou habituado a intensidade desde que de tenra idade acompanhava a avó ao Bolhão. Entre múltiplos, caralhos, foda-se, sai-lhe um putinha que te pariu. Achei ternurento, putinha que te pariu é quase como dizer «a tua mãe não é lá muito séria, mas paciência». Depois remata com um «por tua causa é que ando a alugar o bacalhau». Simplesmente poético. De facto, a transacção comercial vulgarmente conhecida como prostituição, não passa de um aluguer. Não vende, porque isso significava propriedade permanente, hipoteca, o diabo a quatro. Não dá, porque tal seria de borla, arruinaria o negócio, teria de pedir um Plano Especial de Revitalização (PER). Suponho que só dê, mesmo dado, ao manager com quem trocava ideias e a um ou outro amigo de ocasião. De facto, trata-se de um aluguer. Quando um tipo pensa que já ouviu quase tudo, há sempre uma meretriz que nos faz notar que a língua – a falada, está bom de ver – pode ser enriquecida com coloridas definições.

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17 comentários

De alexandra g. a 01.10.2016 às 22:56

Ora foda-se, Fernando, eu, que ando no desemprego dos dias vai para 9 anos, merecia um comentário igual ao da Lucília A.


Agora vou ali amuar um pedaço :P

De Fernando Lopes a 01.10.2016 às 23:07

Alexandra, imagino que estar desempregado seja dificílimo. Se fosse um mentecapto seria mais tolerável, um pessoas interessada, inteligente, deve sofrer ainda mais. Não tenho muito para te dizer, apenas posso mandar um abraço sentido. Não resolverá grande coisa, mas talvez traga um pequeno conforto. 

De alexandra g. a 01.10.2016 às 23:20

"desemprego dos dias" é a expressão que uso há anos para justificar um emprego de merda, de muito baixa remuneração, não trabalhando naquilo que gosto, trabalho para o qual possuo carteira profissional, por mor do divórcio: pagam, invariavelmente, 2/4//7/8 meses depois... imposssível manter "uma vida", nestes moldes.


Concordarás, decerto, com a fórmula que encontrei para esta porra que é ter "emprego"...

De Fernando Lopes a 01.10.2016 às 23:27

Nesse aspecto sou um nheca. Acomodei-me, habituei-me a ser relativamente bem remunerado, nunca fiz o que gostava. Agora só espero pela reforma dos dias para poder fazer o que bem me apetecer. 

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