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O assédio invisível.

por Fernando Lopes, 15 Jan 18

 

Todo o ruído criado à volta de hollywodesco assédio diz-me pouco. Não que o não condene, mas inspira-me pouca preocupação que starlettes venham bradar aos quatro ventos que foram assediadas. A maioria delas seriam adultas, capazes de se defender e de dizer não. Estava em Cedofeita, esplanada do costumes. Uma jovem com pouca mais de 20 anos contava à avó como uma colega sua, ainda menor, tinha recebido uma proposta financeira para ir para a cama com um homem mais velho, não sei se patrão ou cliente de algum estabelecimento onde a jovem trabalhava. Percebia-se pelas roupas e jeito de falar que eram gente de origem humilde. Havia ali um sentido de inevitabilidade, como se ser jovem, bonita, e precisar do emprego a(s) levasse a aceitar aquilo. Que o assédio vem quase sempre de quem tem ascendente sobre o outro é normal, anormal é que miúdas que precisam de trabalhar, pensem com fatalismo, que serem assediadas é algo a que se não pode fugir, para não perder o trabalho. Essas jovens, com pouca maturidade e muita necessidade, raramente se queixam. Fico a pensar que também esta história do assédio é muitas vezes uma questão de classe social. Era assim nas fábricas, é agora, nesta era pós-industrial, nas boutiques e cafés da moda. Assedia quem pode, cala quem necessita.

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10 comentários

De alexandra g. a 17.01.2018 às 22:06

"Essas jovens, com pouca maturidade e muita necessidade, (...)"


O ponto bate muito aqui, seja no bairro suburbano ou nos bastidores do Bosque Sagrado, lá onde se consagra gente que, anos depois, se veste de alta costura - alta joalharia incluída - em negro, para protestar. Homens e mulheres, como sabemos.


Negro????
Bem sei, é elegante, mas


________________
(e eu, jamais falarei da minha história, que bem sei não valer rigorosamente nada - e nem sequer sou uma mulher bonita - que aquilo que vale foi a minha atitude diante de)

De Fernando Lopes a 18.01.2018 às 18:52

Há uma fronteira, muito vezes ténue, entre cortejar e assediar. Não que ache isso normal no mundo da moda ou cinema, mas, como tu, questiono-me se muita daquela gente que desfilou de preto terá a consciência «branca». A omissão ou o virar a cara para o lado também são uma forma de pactuar com o assédio. Ao mesmo tempo estou dividido, pois toda esta histeria parece-me excessiva. 

De Henedina a 20.01.2018 às 08:54

Nos EUA é McCartismo

De Anónimo a 18.01.2018 às 13:33

Detesto aqueles homens muito "táteis"...por acaso alguém os autorizou a por a mãozinha no ombro ou pior?
Poderá não ser considerado assédio, mas lá que irrita, irrita!
E esta onda de actrizes, modelos e afins assediadas por grandes fotógrafos, realizadores e outros. Fica sempre a dúvida... foram realmente assediadas ou é a forma rápida  de destruir carreiras. Quero acreditar que o foram, algumas terão sido. 
MM

De Fernando Lopes a 18.01.2018 às 18:56

O toque pode ser uma forma de exprimir afecto, pode ser algo mais. Como sabes, sou um tipo de beijos e abraços, felizmente nunca tal se voltou contra mim. Acho que as mulheres têm um «distinguómetro» e rapidamente entendem o que é manifestação física de carinho e o que é algo mais.

De Anónimo a 18.01.2018 às 15:07

Se o assunto não tivesse interesse para si, não escrevia sobre ele. De alguma forma, tem. A questão não é ter liberdade para dizer não, isso coloca o ónus em quem tem que recusar (o/a assediada) e não em quem o fez. Porque razão não questiona quem, usando o seu poder e/ou dinheiro, o faz? É é por isso que muitas das vítimas, mesmo de agressão sexual, se sentem de alguma forma culpadas (será que foi o meu decote que o provocou? Será que não devo usar mini saia)...
~CC~

De Fernando Lopes a 18.01.2018 às 19:01

CC, tem alguma razão, mas apenas lhe posso falar da natureza genérica masculina. Como os homens se podem reproduzir até muito tarde, muito deles ainda se acham desejáveis e tornam-se abusivos. A vítima - neste caso - não pode ser culpabilizada, mas também se lhe poderia pedir algum bom senso na indumentária. É machista, bem sei, mas é um modo de defesa como qualquer outro.


http://diariodopurgatorio.com/nunca-demasiado-velho-421139

De Henedina a 20.01.2018 às 08:44

Algum bom senso na indumentária?..'Humm

De Fernando Lopes a 20.01.2018 às 17:32

As pessoas devem poder vestir-se como lhes apetece, embora adaptando-se à situação social em que se encontram. Não sou grande adepto de dress codes restritivos, excepção feita ao local de trabalho. 

De alexandra g. a 18.01.2018 às 21:08

Sem,de todo - que fique claro, ao contrário daquele desfile de roupa em negro - querer desculpar estes tipos que assediam e abusam, é importante verificar que algumas das vítimas de abuso/assédio que apresentaram publicamente o seu testemunho, são mulheres oriundas de famílias de enorme riqueza e estatuto social.Uma, para dar o "exemplo": Cara Delevigne.

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