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Não perceber nada de mulheres.

por Fernando Lopes, 18 Jan 16

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Estou a ler «Mulheres» de Bukowski. É reconfortante entender que como eu, também o poeta e romancista não entendia o sexo feminino. O livro é um relato cru de Henry Chinaski – alter-ego de Bukowski -  de 50 anos, que após uma eternidade de solidão e abstinência, até de um certo desinteresse, devido à fama literária crescente se vê envolvido numa série de casos amorosos que passam a marcar o ritmo da sua vida e escrita.

 

Chinaski tem uma visão muita vezes chocante das mulheres, usando-as e deitando-as fora. Confessa que amou apenas uma mulher que se embebedou até à morte e inconscientemente mantém dentro dos seus afectos mulheres extremas, que vivem como ele num limbo entre o consciente e inconsciente, deixando-se dominar pelos instintos mais primários.

 

As boas mulheres, sem problemas, amantes fiéis, cuidadoras do seu alcoolismo, são-lhe inúteis porque lhes falta a ânsia da vertigem.

 

A Katherine sabia que havia algo em mim que não era salutar, no sentido em que é salutar aquilo que nos faz bem. Eu sentia uma atracção por todas as coisas erradas: gostava de beber, era preguiçoso, não tinha um deus, política, ideais. Estava instalado no nada; uma espécie de não-ser, e aceitava-o. O que não configurava uma pessoa interessante. Eu não queria ser interessante, era demasiado difícil. Aquilo que realmente queria era apenas um espaço ameno e enevoado onde viver, e que me deixassem em paz. Por outro lado, quando me embebedava punha-me aos gritos, enlouquecia, passava-me dos carretos. Um comportamento não batia certo com o outro. Pouco me importava.

 
Charles Bukowski, «Mulheres», pág.135

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18 comentários

De Gaffe a 18.01.2016 às 20:05

O famoso "Find what you love and let it kill you." descreve bastante bem Bukowski.

De Fernando Lopes a 18.01.2016 às 20:19

Acho que entendo estas personagens perdidas na sua voragem auto-destrutiva porque também a sinto um bocadinho em mim. 

De Gaffe a 18.01.2016 às 20:23

Creio que é uma voragem, com maior ou menor intensidade, comum a todos.
As mulheres aprendem com mais facilidade a transgredir a norma.
:)

De Fernando Lopes a 18.01.2016 às 20:27

Talvez por serem mais subtis. 

De redonda a 18.01.2016 às 22:48

Li-o na edição de bolso da D. Quixote, personagens que me pareceram muito reais mas com vidas que não quereria ter, excepto em alguns momentos, na verdade com que se revelavam e aceitavam.

De Fernando Lopes a 19.01.2016 às 19:36

O que é que tu não leste, Gábi ? :) As personagens são densas e extremas porque não me parece que a componente de ficção seja determinante no livro. Será mais um momento autobiográfico romanceado que outra coisa.

De redonda a 19.01.2016 às 22:29

Bem, por acaso, deste autor, acho que foi mesmo o único que li :)

De Anónimo a 19.01.2016 às 10:54

Estou viciado na "voragem auto-destrutiva" caro Nando, é um desporto radical...
Filipe das merdas

De Fernando Lopes a 19.01.2016 às 19:38

Só que às vezes mata, e não quero perder um amigo, pá.

De Maria Manel a 19.01.2016 às 11:06

Embora seja uma delas, admito que ninguém percebe as mulheres: não nos entendemos uma às outras a maior parte das vezes - é senso comum que um grupo de trabalho só de mulheres dificilmente funciona e mesmo para nos entendermos a nós próprias é preciso anos de introspeção... 


P.S - uso o acordo ortográfico

De Fernando Lopes a 19.01.2016 às 19:40

Para me entender precisa de anos e anos de psicanálise, não tenho tempo nem dinheiro para isso. Acho que é assim com todos nós independentemente do género.

De Maria Manel a 20.01.2016 às 16:59

Se calhar até não Image

De Maria Manel a 19.01.2016 às 11:07

(ou tento) ;-)

De pimentaeouro a 19.01.2016 às 11:27

Não entendemos as mulheres e pouco entendemos dos homens; entender o outro, homem ou mulher não é fácil. Quanto a vertigens auto-destrutivas, felizmente não sinto.

De Fernando Lopes a 19.01.2016 às 19:41

Tem razão meu caro. Como referia num comentário acima nem entendermo-nos é fácil, quanto mais os outros.

De henedina a 19.01.2016 às 19:59

O que deu aos escritores para falar de mulheres hoje? O Fernando e o Lobo Antunes.
Esta mulher está a pensar...como é que uma mulher nota se um homem gosta mesmo dela? Eu, por exemplo, não sei e não quero estar com quem esteja por estar...

De Fernando Lopes a 19.01.2016 às 20:06

Escrever Fernando e Lobo Antunes no mesmo parágrafo é crime de heresia. Eu explico: amo mulheres, as pessoas mais determinantes na minha vida foram e são mulheres, aconselho-me com mulheres, as mulheres são simultaneamente mais inteligentes e intuitivas. No fundo, desejava entendê-las porque tenho a ilusão que esse conhecimento me poderia transformar num ser humano um bocadinho melhor. 

De henedina a 21.01.2016 às 17:20

Se eu própria não me entendo...eheheh

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