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Esperem sentadas.

por Fernando Lopes, 29 Jan 16

Que cases. Que pareças o Brad Pitt de casaca. Que te mantenhas sóbrio durante o evento apesar de sentires que ali não pertences. Que sejas no mínimo um sucedâneo do José Avillez. Que sejas exímio na cama mas não tenhas fodido muitas gajas e sobretudo as amigas dela. De gatinhos que rasgam o sofá, cães que deixam uma poia no meio da sala e mesmo assim os aches fofinhos. Crianças, tens mesmo de gostar muito de crianças. O futuro são as crianças, mesmo as que gritam com cólicas durante seis meses seguidos.

 

Esperam isso de ti e até mais. Que nunca te sintas deprimido e tenhas sempre um óooptimo sentido de humor. Que não tenhas mau hálito. Que não te peides quando foste desterrado para a varanda fumar um cigarro. Que sejas executivo, mas quando chegas a casa te tranformes em canalizador, electricista, carpinteiro. Que percebas os anagramas do IKEA e montes uma estante BILLY com quatro componentes sem perder uma puta de uma porca. E que fique bem à primeira.

 

Que sejas uma espécie de «melhor amiga» e logo a seguir te transformes em Mr. Grey, possante, musculado e dominador.  Que te interesses por uma cena chamada «moda» que muda todas as estações. Que não gostes de futebol e cervejas, mas te comovas com ballet. Que atures os episódios das novelas.

 

Musculoso, tens de ser musculoso, um corpo em V e o pinto devidamente aparado. Que leves as crianças ao parque sábado de manhã enquanto a tua cara-metade aproveita para ter o seu tempo de qualidade com as amigas.

 

Que estejas sentado todo o dia à secretária fazendo complexo cálculo financeiro e isso não te provoque hemorróidas. Que conduzas um carro de 200 cavalos a 120 à hora, vás levar as crianças ao colégio e quando ela chega lhes tenhas dado banho, a roupa na máquina e o jantar a 5 minutos de ficar pronto. Assim ela sempre pode participar, tratando majestaticamente da salada.

 

Que faças tudo isto e a seguir possas discutir com profundidade o «Tractatus» de Wittgenstein. Esperam tudo isto, só não esperam que sejas tu.

 

Inspirado por esta cretinice coisa...

 

P.S. – Também me chamaram cretino. Provavelmente os cretinos andam aos pares, mas esta vitimização feminina já cansa. Socialmente é exigido demasiado a ambos os géneros, como se tivéssemos a obrigação de ser perfeitos. Não temos. E podem chamar-me cretino à vontade, é irrelevante.

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15 comentários

De Alice Alfazema a 30.01.2016 às 09:51

Bom dia! Gostei da tua versão, mas também gostei da outra. :)
 
Concordo totalmente contigo, quando dizes que socialmente é exigido demasiado a ambos os géneros. Eu por mim, já deixei há muito tempo de me preocupar com muitas dessas exigências, mas há quem não consiga, o que é mau para o próprio e para quem tem de o aturar(incluindo colegas de trabalho).  


Bom sábado e não vás para a varanda porque está frio. :)

De Fernando Lopes a 30.01.2016 às 10:43

Vivemos a lufa-lufa da perfeição. Mentes perfeitas em corpos perfeitos, como se tal existisse. Que se lixe isso, importante é a bondade, o carácter, bens cada vez mais mais escassos independentemente do género. 


Após muita luta reivindicativa tenho um escritório onde posso fumar à vontade. :)

De Carlos Azevedo a 30.01.2016 às 14:46

Fernando, tu referes-te ao que a mulher espera do homem, mas creio que ela se refere ao que a sociedade espera da mulher; é ligeiramente diferente. Não diria que é uma cretinice, porque ainda corresponde à realidade; e, cada vez mais, o que descreves também, mas são exigências de diferente ordem. Na verdade, toda a gente espera muito de nós, e pode ser uma forma de prisão.
Grande abraço.

De Fernando Lopes a 30.01.2016 às 16:05

A Cláudia já me fez ver esse ponto, talvez tenta tido um julgamento apressado, talvez não. Todos esperam demasiado de nós, estamos plenamente de acordo. De qualquer forma nunca os homens estiveram tão pressionados para serem perfeitos. Não é um exclusivo feminino. 

De redonda a 31.01.2016 às 00:12

Desde que saiba montar a Billy...
(e pode até nem ser à 1ª e perder uma porca)

De Fernando Lopes a 31.01.2016 às 17:13

Já conseguiste pôr uma série de marmanjos a treinar. :)

De redonda a 04.02.2016 às 00:01

:)

De pimentaeouro a 31.01.2016 às 10:30

A sorte que eu tenho, estou livre de todas as perfeições e durmo tranquilamente.

De Fernando Lopes a 31.01.2016 às 17:15

Somo dois, meu caro. A perfeição também não é comigo, sou um poço de defeitos.

De Anónimo a 31.01.2016 às 18:30



Tem razão e ela também. Ela um bocadinho mais...porque só há pouco tempo se vai esperando essa perfeição dos homens, pelo menos como refere, reage porque para vocês é novo, para nós tem mais tempo...por isso só não gostei da ideia de vitimização feminina, ela não se vitimiza, ela revolta-se, tal como você o faz.


Sufocamos todos com isto, temos que tentar não nos deixar apanhar. Amar é por certo, se não propriamente gostar, compreender os defeitos do outro, aceitá-los como parte integrante daquilo que ele é. 
~CC~

De Fernando Lopes a 31.01.2016 às 22:26

Não tenho dificuldade em aceitar um crítica pertinente como a sua. De facto para nós homens isto é novo, velho como o mundo para as mulheres. Na posta da Rita está subjacente que a sociedade e eventualmente os homens esperam mulheres perfeitas. Isso não corresponde à verdade, pelo menos à minha verdade. Amar tem uma grande componente de aceitação do outro, coisa que se aprende (também) com o tempo.

De Ana A. a 01.02.2016 às 19:46

Só entra nesse jogo quem quer! 
Cá por mim tenho a péssima tendência para fazer exactamente o oposto daquilo que é suposto, quando me sinto pressionada. Para além de detestar comportamentos de manada. :)

De Fernando Lopes a 01.02.2016 às 20:03

A um nível inconsciente todos somos pressionados para sermos perfeitos. A publicidade, os amigos, o que é bem aceite socialmente são coisas difíceis de ignorar. Também tenho o síndrome «Régio», será por sermos do mesmo signo? 

De Ana A. a 02.02.2016 às 16:25

Obrigada, pela alusão ao "Régio", fez-me reler o Cântico Negro!
Apesar de sermos do mesmo signo e eu detestar a maioria das convenções sociais, na verdade sou muito mais "prudente" e cautelosa, embora admire pessoas como o Fernando que vivem intensamente as dores e as alegrias!

De Fernando Lopes a 02.02.2016 às 21:06

Nem sei viver de outro modo, é a minha natureza. E também tenho momentos em que fraquejo ou me acobardo.

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