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Epifania.

por Fernando Lopes, 2 Mar 15

Não sou particularmente culto ou grande bibliófilo; leitor mediano, não ultrapasso os vinte livros por ano. Gosto sobretudo de romances, «estórias». Quando uma obra me chega precedida de grandes encómios e adjectivação generosa, como ao cão sarnento, arrebita-se-me a orelha de suspeição. Conduziram-me a «Stoner» Mestre J. Rentes de Carvalho e o Ricardo Gonçalves com que partilho muitas das descobertas.

 

«Stoner» é uma obra especial. Toda ela cruzada por uma enorme melancolia e pelo amor ao ensino e sobretudo à literatura. Uma biografia romanceada que poderia ser a de qualquer académico aprisionado no seu universo e circunstância. A vida de Stoner é de algum modo, a minha, a tua, a do homem comum. A diferença é a autenticidade, despretensiosismo e elegância de escrita com que ela é contada.

 

Ocasionalmente provocou-me uma ou outra epifania: o que sinto, sentimos, está ali retratado com rigor e transparência. Atente-se nesta pequena amostra:

 

Depois, sorriu com ternura, como que perante uma recordação. Pensou que tinha quase sessenta anos e que deveria estar para lá de uma tal paixão, de um tal amor.

Mas não estava, sabia que não estava e nunca estaria. Debaixo da dormência, da indiferença, do distanciamento, ali estava paixão, intensa e firme; sempre ali estivera. Na juventude, dera-a livremente, sem pensar …

 

De estranhas maneiras, dera-a a cada instante da sua vida e talvez a tenha dado mais plenamente quando não estava ciente de o fazer. Não era uma paixão nem da mente nem da carne; era, isso sim, uma força que as abrangia a ambas, como se fossem a matéria do amor, a sua substância específica. Dedicada a uma mulher ou a um poema, dizia simplesmente: Olha! Estou vivo.

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4 comentários

De Luís Coelho a 04.03.2015 às 09:52

Sendo assim, não aconselho a leitura de W.G.Sebald para não criar suspeições.
Mas deixo uma alternativa:
Al Di Meola. Casa da Música (Sala Suggia). Às 22h. 20 euros.

Abraço

De Fernando Lopes a 04.03.2015 às 19:08

De Sebald nunca li nada, aceito de bom grado uma sugestão por onde começar. 
Al Di Meola é também um clássico, mesmo sendo um incondicional do rock.

De Luís Coelho a 05.03.2015 às 10:13

Nunca me atreveria a tanto, caro Fernando, até porque o que para mim pode ser um hino, pode para si ser uma grande merda (e qualquer dos pontos de vista é aceitável). 
Dica única:
http://www.newyorker.com/books/page-turner/why-you-should-read-w-g-sebald

De Fernando Lopes a 05.03.2015 às 19:01

Obrigado, já me aguçou o apetite.

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