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Dias de Lanzarote (I).

por Fernando Lopes, 29 Ago 16

aviao_lanzarote.JPG No céu, entre terra e mar

 

Dia 1, «No Smoking».

 

A última vez que tinha estado em Barajas, já lá vão três ou quatro anos, existiam umas barraquinhas para fumadores de cinquenta em cinquenta metros. Permitiam fumar sem incomodar ninguém, reunia-se uma espécie de irmandade da nicotina, solidários e aliviados. Isso acabou. Tínhamos de apanhar voo para Madrid, esperar quatro horas e finalmente embarcar para Lanzarote. No aeroporto Sá Carneiro existiu em tempos uma espécie de guarda-chuva aspirador de fumo, mas também esse desapareceu. Moral da história, abstinência forçada durante dez horas.

 

O paradoxo é que existem cigarros à venda por todo o lado e não há sítio para os fumar. Num aeroporto, espécie de Babel dos tempos modernos onde todos procuram ter um ar de quem anda de avião todos os dias, podes empanturrar-te de hambúrgueres, fritos, doces, até ter um enfarto, beber bebidas alcoólicas até à morte, mas não podes fumar um cigarro.  

 

 

da_varanda.jpgDa varanda


Dia 2, «A Família Adams».

 

O hotel fica na segunda linha de praia, com a primeira de areia fina a cerca de dois quilómetros. Resolvemos descansar neste primeiro dia. Noto que está cheio de súbditos de sua majestade Isabel II, mas nem todos falam inglês. Dirigem-se-me com um sotaque as mais das vezes incompreensível, eu que até me gabo de ter um inglês bem acima do razoável, como atesta o diploma que diz que completei os estudos do «American Language Institute» com sucesso. Não são escoceses ou irlandeses. Finalmente encontro uma velha senhora «middle class» com a qual consigo ter um diálogo frutuoso e – milagre – conseguimos compreender-nos com toda a normalidade. Não era culpa minha. A maioria destes cromos da bola têm um conceito de férias muito simples: ficar numa espreguiçadeira vermelhos como pimentos, enquanto bebem toda a cerveja que lhes for humanamente possível.

 

Entre todas estas famílias destaca-se uma de monhés. Podia ser politicamente correcto, dizer que são de origem indiana, prefiro o monhé.  São super-estranhos porque estão sempre de chapéu e t-shirt, não fosse o sol dar-lhes cabo do bronzeado natural. Porra, eu sou moreno e ao pé das criaturas pareço um copinho de leite, protegem-se exactamente de quê? Não vão ficar mais brancos ou mais morenos por muito que se esforcem. São seis ou sete e uma criança de dois anos. Já adquiriram algum do espírito britânico, pois estão sempre, sempre, de cerveja na mão. A criança usa um fato de corpo inteiro tipo mergulho, um colete salva-vidas, um boné com protecções laterais como os caminhantes do deserto. Tudo isto para nadar numa piscina de vinte centímetros de água, onde é virtualmente impossível alguma criança afogar-se, mais ainda sobre a vigilância constante de seis ou sete adultos. Desatam às palmas quando o miúdo mete um carrinho num copo, atira uma bola, enche um baldinho de água. Todo aquele entusiamo com as brincadeiras da criança faz-me pensar que será o primeiro bebé-proveta indiano. O puto nem se consegue mexer de tão enchouriçado que está, ocasionalmente move apenas as perninhas numa corrida, logo aplaudida com entusiamo frenético pela família. Do mais bizarro que tenho visto.

 

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21 comentários

De Pseudo a 29.08.2016 às 10:18

E putos com trela, a passearem os pais que vão atrás? Eh pah, aquilo meteu-me cá uma impressão! O meu rapaz perguntou-nos se éramos capazes de lhe ter feito isto qd ele era pequeno. Tb não deve ter gostado muito da ideia, não...

De Fernando Lopes a 29.08.2016 às 10:24

Não sei se a maternidade é fortemente subsidiada em Inglaterra, o certo é que existiam imensos casais jovens com três, quatro filhos pequenos. A parte cultural das férias vem já na próxima posta, que isto não foi só banhos de sol. ;)

De Pseudo a 29.08.2016 às 10:28

Nunca tendo estado em Inglaterra, posso confirmar que nas Irlandas há muitos casais jovens com essa quantidade enorme de filhos, há. Cruzámo-nos, num autocarro, com uma jovem que não deveria ter mais do que 26 ou 27, que levava um num carrinho de bebé e tinha mais 2 à sua volta. Senti um misto de pena e inveja, admito. :)

De Fernando Lopes a 29.08.2016 às 10:50

Compreendo-te bem, os filhos são uma bênção e uma responsabilidade que nunca terminam. Para uma família grande é preciso ser uma espécie de atleta de fundo.

De Anónimo a 29.08.2016 às 12:06

Uma amiga queria muito parir um filho e fartou-se de pinocar com esse fito; trigémeos...
Filipe tio de 3

De Pseudo a 29.08.2016 às 13:15

Ora, ficou o assunto resolvido de vez: berrou uma vez na vida, com a vantagem de ter ficado com 3 tesouros em casa. :P

(Mas que mano tão, tão...sei lá! :P)

De Fernando Lopes a 29.08.2016 às 17:29

Na maior parte dos casos actuais os gémeos são filhos da inseminação artificial, três produto de pinocada à moda tradicional são uma raridade.

De Ana A. a 29.08.2016 às 14:59

Ora, cá estamos de novo!
E já começa a aguçar-nos o apetite, com estes relatos tão bons, a que já nos habituou.

De Fernando Lopes a 29.08.2016 às 17:31

Obrigado, Ana. Esta é a parte light, as coisas mais interessantes seguem dentro de momentos.

De Carlos A. De Carvalho a 29.08.2016 às 19:43

Acho que vou propor a todos os leitores do teu blog para pagarmos as tuas férias mês sim , mês não . No mês não , escreves tudo por que passaste, nós lemos e mijamo-nos de rir .   Fica mais barato que comprar livros de humor ou assistir programas de TV , dito humorísticos . Bom retorno . 

De Fernando Lopes a 29.08.2016 às 21:05

Obrigado, Carlos. A ideia nos posts seguintes, é fazer um pequeno guia do que vi, este é só uma introdução com o caricato de alguns hóspedes e situações vividas no hotel. 

De Carla a 29.08.2016 às 21:54

Queres que te mande uma caixa de Xanax, para aguentares o calvário das férias? ;)

De Fernando Lopes a 29.08.2016 às 21:59

Nope. Só um spray que afaste bêbados e mal-educados de qualquer nacionalidade. Não duvides que ia deixar muita gente à distância. :)

De Carla a 29.08.2016 às 22:01

Experimenta deixar de tomar banho. :D

De Fernando Lopes a 29.08.2016 às 22:07

Atraía-os pelo pivete. Aquilo é pessoal que tirando a água da piscina dá-se melhor com cerveja. No hotel tínhamos sempre três pratos de carne, três de peixe e três de cozinha regional (mexicana, japonesa, italiana, canária). Os estupores dos ingleses só comiam hambúrgueres, salsichas, ketchup e batatas fritas. Os empregados serviam aos quilos de batata frita, que desapareciam em segundos. De um requinte gastronómico sem fim, os meus amigos britânicos.

De Carla a 29.08.2016 às 22:13

Sinto a tua dor e apoio-te!

De Fernando Lopes a 29.08.2016 às 22:19

Sabia que podia contar contigo. Vai uma salsicha com batata frita e ketchup?  Haute cuisine. ;)

De Genny a 29.08.2016 às 23:15

Está a ser bastante interessante, este relatório Image

De Fernando Lopes a 29.08.2016 às 23:45

Estou a escrever sobre algo mais sério, daqui a pouco há novidade. :)

De belitaarainhadoscouratos a 01.09.2016 às 10:03

Para escapar a esse tipo de férias, é só não ir :) 
Quanto às proles, tenho família em Inglaterra e quer a 2ª geração, quer agora a 3ª, são muito prolíficos na filharada. E nas cerveja. E nas batatas fritas. E na cerveja. E no ketchup. E na cerveja. E na cerveja.
(eu também frequentei o ALI!!!!)

De Fernando Lopes a 01.09.2016 às 12:21

Gostei das férias, só me encanitaram alguns dos hóspedes. Nos outros posts podes ver que me fartei de ver coisas, e ainda falta o último da série. Gostei bem do método da ALI. :)

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