Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Devo ter um ar muito próspero…

por Fernando Lopes, 14 Nov 15

Adormeci tarde a ver as notícias sobre os atentados em Paris. Um encruzilhada sem solução à vista em que todos perdemos. Vem-me à cabeça as palavras de Gandhi «olho por olho e todos ficaremos cegos». Dilemas demasiado grandes para tão pequeno homem, resolvo sair.

 

Passo numa pequena sapataria de bairro e resolvo entrar. Como muitos homens, tendo pouca preocupação pela aparência, gosto apenas de estar lavado e apresentável. Uso fato e gravata por obrigação profissional, e tendo a negligenciar a compra da «farda». Como tenho imensos sapatos, todos eles já um bocado gastos, é tempo de renovar calçado.

 

Escolho um modelo clássico de preço médio, bolsa e local não são dados a grandes luxos. Olho, escolho, experimento, e passados dois minutos a compra está concretizada e paga.

 

- Se todos os clientes fossem assim a sra. tinha a vida facilitada, comento à laia de brincadeira.

 

- Provavelmente o sr. comprou só por comprar.

 

- Não sou dado a consumismos, só compro porque preciso. Todos os meus sapatos de trabalho estão a ficar velhotes.

 

Saio e fico a pensar. Um tipo normal, de calças de ganga, polo de rugby e botas de montanha não é propriamente um símbolo de prosperidade. O que visto é de boa qualidade, mas não padeço da doença do logo, não há cavalinhos de polo, galgos, crocodilos, Gant ou CH a exibir falsa prosperidade. Porque será que com alguma frequência me atribuem jeitos de burguês que não tenho?

Autoria e outros dados (tags, etc)

17 comentários

De Anónimo a 14.11.2015 às 12:51

É o estilo.

De henedina a 14.11.2015 às 12:53

O comentário anterior é meu...não sei pq não assume sempre!

De Fernando Lopes a 14.11.2015 às 12:54

O estilo «tomo banho todos os dias» já é sinal de prosperidade? 
Image

De henedina a 14.11.2015 às 12:59

Nao o estilo educado

De Fernando Lopes a 14.11.2015 às 13:08

Procuro ser educado, agradeço sempre, trato as pessoas com cortesia, mas também sou popularucho, falo com toda a gente, conheço do muito rico ao muito pobre, do catedrático ao analfabeto, e não me comporto de modo diferente perante este opostos. Se isso é ter estilo, então tenho. 

De Fatia Mor a 14.11.2015 às 13:17

Parece-me que a questão é mais profunda. Hoje só compra quem pode. Esse poder deixou de ser um exercício de massas, as pessoas retrairam-se muito com a crise e algum histerismo em torno se isso.
À parte dessa questão, o comércio continua a falhar em algumas considerações de funcionamento, especialmente no que toca a bem atender. Talvez isso também tenha estado na base de uma resposta tão seca (ou pelo menos, assim a leio).

De Fernando Lopes a 14.11.2015 às 13:27

Ainda há uns tempos um amigo que é advogado de notoriedade comentava que a crise passou por nós ao de leve, deixámos de fazer insignificâncias, nunca nos faltou nada, ao contrário do que se passou com muito boa gente. É verdade, tenho tido a sorte do meu lado. A sra. disse aquilo, talvez porque sou muito decidido e rápido a fazer compras. Tenho dinheiro, acho o preço justo, compro, não tenho, acho caro, vou-me embora. Acho que esse ar «desligado» das minudências, talvez tenha essa consequência lateral.

De henedina a 14.11.2015 às 13:18

Se isso não é estilo...eu tb falo com todos apenas não sou a cortesia... Apenas em ferias...sobre stress não perco tempo o que me faz menos mas como sorrio ate com os olhos compenso.

De Gaffe a 14.11.2015 às 17:03

Francamente, meu querido Fernando!
Não vou comentar. Estou extenuada de escrever sobre charme.

De Fernando Lopes a 14.11.2015 às 18:07

Minha querida Gaffe, agradeço, mas há um mundo de distância entre urbanidade e charme, embora uma e outra sejam hoje dia uma raridade. :)

De Gaffe a 15.11.2015 às 14:12

Provavelmente sou eu a errar, mas sempre considerei que a urbanidade é uma consequência, ou uma aliada, do charme - mesmo na aldeia.
:)

De suricate a 16.11.2015 às 09:56

"Provavelmente o sr. comprou só por comprar." É a única coisa que não percebo. Quanto ao ser rápida nas compras, não vejo a relação que´isso possa ter com o poder de compra de cada um. Não correspondo ao protótipo habitual de uma mulher às compras, quando entro vou direita ao que quero/preciso, nunca demoro mais de 10 minutos numa loja, era assim em 1990 quando não fazia contas ao dinheiro que gastava e ganhava o dobro do que ganho hoje, sou assim hoje que vivo com limitações que me foram impostas e com metade do ordenado que já tive um dia. O aspeto limpo, asseado e cuidado de uma pessoa não passa por cavalinhos nem crocodilos, essas etiquetas que se colam às pessoas são absurdas. Cada um sabe de si. O comentário da funcionária comigo não tinha ficado sem resposta.

De Fernando Lopes a 16.11.2015 às 13:00

Não levei o comentário a peito, é-me indiferente. Certo é, que como bem diz, há muito se deixou de «comprar por comprar».

De Corvo a 17.11.2015 às 11:57

Depois de ler isto, vejo-me refletido por um espelho.
100% igual. Compro porque preciso, não olho a marca mas sim o conforto. Gosto pago e vou embora. Cinco minutos são mais que suficientes.

De Fernando Lopes a 17.11.2015 às 12:26

É coisa de quem compra por necessidade não por prazer. Conheço alguns tipos (na verdade um) que é um chato do caraças, experimenta e torce o nariz a tudo. Como passatempo tenho coisas melhores para fazer que andar às compras.

De golimix a 17.11.2015 às 12:26

Olá.
Concordo contigo, provavelmente um efeito colateral da tua eficiência Image

De Fernando Lopes a 17.11.2015 às 19:39

Bem-vinda. Suponho que os comerciantes estão mais habituados aos «engonhas» que aos despachados. :)

Comentar post

Pesquisar

Pesquisar no Blog

Feedback