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Conversando com a morte.

por Fernando Lopes, 26 Jan 14

- Que estás aqui a fazer? Vieste-me buscar?

- Nunca apareço sem ser convocada; vim ao teu apelo, inconsciente ou não.

- É hora de ir?

- Nunca aviso quando venho em missão. Esta é apenas uma visita de cortesia, de avaliação se assim quiseres.

- Não há maneira de te enganar?

- Muitos tentaram, nenhum conseguiu.

- Consigo gerir a minha morte. Se me suicidar, por exemplo.

- Não sejas ingénuo, estou lá sempre, sou eu que decido do sucesso ou fracasso. Não podes enganar-me.

- Quem são essas aí atrás?

- São as minhas irmãs: tragédia, doença e envelhecimento. Embora seja a face que todos conhecem, ando sempre com elas.

- Tenho mais medo das tuas irmãs.

- Vê se compreendes isto: as nossas decisões são colegiais, nunca levo ninguém sem o seu consentimento. Porque causo grande medo, elegeram-me como representante; sou no entanto parte desta parceria indestrutível e eterna.

- E porque me apareceste assim em sonhos? Porque falas comigo?

- Apareci, chamaste, estás a confrontar-te com a tua mortalidade? Não sou eu que tenho resposta a essas perguntas. Tu e só tu és capaz.

- Não entendo.

- Esforça-te, é só um sonho, uma visitação aos teus medos.

- Significa que não me vens buscar hoje?

- Hoje, amanhã, daqui a dez anos, quando for, será.

- Tenho uma filha pequena, gostava de a ver crescer.

- Não está nas tuas mãos. Contenta-te em aproveitar o que tens agora, seria estúpido da tua parte pensar que a paternidade faz alguma diferença. Imaginas quantos como tu já levei?

- O.K., aceito.

- Não temas, virei por ti quando menos esperares.

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