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Cobardia.

por Fernando Lopes, 22 Jun 17

A minha avó foi a minha mãe. Tinha coisas muito suas, uma vontade férrea, um jeito rude, uma generosidade fora do comum. Cuidou de mim como se me tivesse saído do seu útero, justificava-o com o adágio «parir é dor, criar é amor». Esperou que nascesse a bisneta para morrer, nunca iria sair deste mundo sem antes acarinhar «a menina». Como se tivesse a certeza que me tornaria um pai competente, desistiu quando entendeu que era hora. Tenho de ir ao cemitério para juntar os seus ossos aos do avô. Sei que gostaria disso. E no entanto falta-me a coragem. Porque assim que estiver no ossário sei que terei de admitir que morreu. Até agora encarei a sua ausência como se de uma viagem se tratasse. Deixará de ser assim. Dá-me coragem, avó. Dá-me aquelas palmadas suaves, o mais próximo de um carinho que te permitias. Dá-me aqueles teus olhos azuis a sorrir. Dá-me força. 

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12 comentários

De Linda Blue a 23.06.2017 às 11:55

Eu nunca consegui ir ao cemitério "ver" o meu pai. Sei que não está lá, porque o trago dentro do coração.
Percebo muito bem o que sentes agora. Mas não tenho nenhuma receita.
Só um abracinho.

De Fernando Lopes a 23.06.2017 às 12:58

Agradeço o abraço e retribuo ainda com mais vigor. A parte burocrática é fácil, a exumação é que vai ser complicado. Como no caso do avô, vou ficar ao longe.

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