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As mais belas férias.

por Fernando Lopes, 10 Jul 14

 (Vista do Ilhéu das Rolas para S. Tomé)

Fechado em casa, férias na praia adiadas sine die por bons motivos, pus-me a pensar qual teria sido a visita mais marcante. Embora conheça Londres, Paris, Barcelona e algumas outras cidades europeias, não sou turista de cidade. Já conheci o luxo e deslumbramento do Índico, vivi a alegria berbere do norte de África, saltei de ilha em ilha nas Caraíbas, dancei mornas e coladeiras em Cabo Verde, mas a terra que me vestiu o coração foi S. Tomé. Já passaram uns bons dez anos, confesso no entanto que não gostava de morrer sem voltar.

 

A única companhia que voa para S. Tomé é a TAP, na altura aproveitamos uma campanha da extinta Air Luxor e viajamos a preços bem em conta. À época não havia reabastecimento no aeroporto S. Tomense pelo que o avião saía de Lisboa com carga completa, isto é, metade dos passageiros e combustível suficiente para ir e voltar. Na volta todos os lugares podiam ser ocupados uma vez que a aeronave já só trazia metade do peso em combustível. Só havia um voo semanal à quarta-feira, localmente conhecido como «Dia de S. Avião».

 

 

(marco do equador) 

O serviço de malas era do estilo do it yourself, alguém as descarrega para a placa e tu vais lá buscá-las e pouca treta. Ultrapassadas as formalidades alfandegárias fomos até ao Ilhéu das Rolas, uma pequena ilha ao largo de S. Tomé, que seria o nosso poiso naquela semana.

 

Atravessar a ilha por estrada não é (era?) coisa fácil, 30 kms demoravam mais de uma hora a percorrer. A floresta em alguns locais tragou o asfalto, pelo que eras obrigado a fazer todo-o-terreno até reencontrares caminho aceitável. Para o viajante europeu é difícil encarar a pobreza generalizada; tens de encontrar um equilíbrio precário entre a empatia, respeito e aceitação, sem entrar em paternalismos patetas ou ficares imbuído de espírito missionário.

 

(no intervalo da escola)

(mulher com criança numa roça)

 

O que é que encontrei? Uma natureza luxuriante, intocada, muitas vezes a lutar e vencer a «civilização». Um povo extremamente pobre e no entanto cortês, digno, acolhedor. Roças abandonadas em que a vida gravita à volta de algo quase inexistente, a produção de cacau. As pessoas simplesmente aproveitaram as estruturas criadas e deixaram-se ficar por lá, à espera de algo que já não volta, esquecidos pelo mundo e pelo tempo.

 (aldeia)

(meninos numa roça)

Impressionou-me que uma parte significativa da população tivesse as pernas arqueadas, sinal de raquitismo devido a uma alimentação deficiente, a alegria das crianças com quem jogámos à bola no intervalo da escola, a disponibilidade dos mais velhos para contar estórias e nos darem um carinho que certamente lhes foi negado.

(a sorrir para o «boneco» enquanto preparávamos o jogo)

(queda de água, algures) 

Corremos a ilha de lés-a-lés, conhecemos o «Pico do Cão», quedas de água, as praias paradisíacas, roças e «fábricas» de óleo de palma. O que trouxe de lá, muito além da tropicalidade, foi sentir-me irmanado com aquela gente esquecida no meio do Atlântico. E os irmãos, mesmo que se vejam raramente, ficam sempre no coração.

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1 comentário

De Alice Alfazema a 10.07.2014 às 14:39

Nunca fui a África, mas fascinam-me  esses sorrisos, durante muito tempo fui considerada retornada, ainda o mês passado me perguntaram se era de Angola :), fico sempre na dúvida sobre o que responder, não me apetece dizer que não. 


Gostei do trabalho de campo, das fotografias, a quinta foto é especialmente encantadora, os sorrisos, as brincadeiras, e aquela miúda assim com um ar zangado, mas castiço ao mesmo tempo, onde podemos ver expressões genuínas, coisa que deixámos de poder desfrutar cá deste lado da "civilização".


Quase que pareces um antropólogo, ali no meio da malta.    Image

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