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MacGyver.

por Fernando Lopes, 18 Ago 14

Este fim-de-semana tive por companhia um casal amigo e os filhos. O pai é um tipo de estatura média, nem gordo nem magro, careca a despontar e sorriso franco. Diz o que pensa sem fosquinhas, uma bela base para estabelecer amizade. Ficou decidido que faria os churrascos, porque também ele um incondicional da boa mesa e boa pinga. Começou a tratar das brasas, faltando no entanto um abanico.

 

- Se não te importas, procura nos arrumos. Não te assustes por estar tudo num caos.

 

Vinte minutos passados, nem sinal do visitante. Desço ao jardim e vejo um monte de lixo cá fora e tudo muito limpo e arrumado.

 

- Aproveitei para arrumar isto e já encontrei o abanador.

 

Dedicou-se depois à canalização, tendo-se proposto substituir um cano velho de uma pia, tarefa que realizou com rapidez e eficácia. Como a velha mesa exterior de refeições estava a precisar de uns ajustes, logo a desmontou, apertou aqui e ali, deixando-a operacional para mais uma temporada.

 

Como sou um desastre em bricolage, pouco mais ajudei que a fazer de «chega-me isso». Se ficasse mais uns dias lá por casa estou certo que me renovaria o casebre por completo. Fiquei ali, embaraçado e aparvalhado, sem saber se havia de lhe pagar em pão e vinho, passar um cheque ou contratá-lo como supervisor de obras. Pelo sim, pelo não, vou passar a semana a treinar aperto de parafusos, montagem de canos e afins.  

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Não são imperfeições mas marcas distintivas.

por Fernando Lopes, 24 Jun 14

Jantar de S. João. À roda da mesa circula livremente o vinho, cerveja, sangria. Um grupo de amigos que se querem bem e respeitam, reúne a mais rara das qualidades; são excelentes seres humanos. Há jornalistas, professores, psicólogos, bancários, farmacêuticos, engenheiros, uma pequena amostra de pluralidade.

 

As raparigas falam de tratamentos dolorosos que fizeram à pele para eliminar acne resistente e outras pequenas marcas. Não sou defensor desses tratamentos, acho-as bonitas de qualquer forma. Gosto dos caninos afilados, das marcas de borbulhas, do cravo com carácter bem acima do nariz, dos óculos de massa, dos olhos constantemente vermelhos.

 

Os homens normais não querem amar uma modelo perfeita, respeitam e enternecem-se com estas particularidades do rosto de cada uma. Amar é também amar as imperfeições, traços de vida e personalidade que dão a cada rosto a sua singularidade. A beleza é algo de único, mesmo nessas pequenas marcas. Não seriam tão belas sem elas. 

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Comecei a escrever por incentivo da minha amiga Xana, e com toda a franqueza, sempre dei aos meus textos nota de medíocre. E no entanto conseguem-se estabelecer relações com quem está do lado de lá do ecrã. Tenho pouco mais de um trintena de clientes regulares, que todos os dias me honram com a sua visita. Este blogue nasceu no Blogger e mudou-se de armas e bagagens para o Sapo muito por culpa da Treza. Fez um excelente template como modo de me abraçar e dar as boas-vindas à família do batráquio.

 

A Treza é profissional de web-design, e estranhamente adoptou-me, ou melhor, adoptámo-nos. Da sua cabeça surgiram novas propostas para tornar esta taberna mais legível em dispositivos móveis. Trabalha graciosa e simpaticamente pela simples razão de que gosta da prosa incipiente que por aqui passa.

 

Não podíamos ser mais diferentes, ela é das tecnologias, eu das letras, ela magra, eu gordo, alfacinha a trabalhar com tripeiro. Esta empatia levou-a a dar-me conselhos, apoiar-me, facto muito importante para quem não padece da doença da moda – ego auto-inflado.

 

Em breve vão existir mudanças por aqui, totalmente mérito desta minha amiga. Obrigado, Treza. 

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Amigas(os).

por Fernando Lopes, 2 Mai 14

Não sei se tenho as melhores amigas do mundo, mas são minhas. Toleram a linguagem de taberneiro que uso com abundância, as manias, refilam, aconselham, dão-me colo. Não sei porquê – talvez educação machista – tenho maior dificuldade em assumir fragilidades frente a homens. Ontem, uma dessas amigas antevendo o negro que pairava sobre mim, telefonou, desafiando-me para uma ida à baixa e consequente participação nas celebrações do 1º de Maio. Estamos juntos poucas vezes, e no entanto sei que é alguém com quem posso contar quase incondicionalmente. Levei a filha, encontramos amigos comuns e alinhamos na manif., secção da polícia, num limbo entre os agentes no activo e reformados. Porque a revolução não se faz de barriga vazia, acabámos na Conga entre cervejas, folhados de alheira e bifanas. A avó dizia «quem tem amigos não morre na cadeia». Não sei se tal se aplica, mas é reconfortante saber que se preocupam connosco, que há mão que se estende quando estamos a afundar, puxando-nos do torvelinho com o mais nobre dos sentimentos, o afecto. Senti-o em pessoa e aqui pelo blogue, por isso o meu abraço agradecido a todos(as). 

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Média-luz.

por Fernando Lopes, 12 Fev 14

Por razões que só o coração conhece conservo um núcleo duro de amigos que remonta à escola primária. Somos quatro, celebramos este ano 43 ou 44 anos de amizade, encontrámo-nos regularmente, idênticos a um slogan vivo da Benetton, completamente diferentes, estranhamente iguais. Um deles deu-me a honra de ser seu padrinho de casamento, é um artista, sempre com a cabeça a fervilhar de novos projectos, imaginativo, místico, boémio e bon vivant. É, aliás sempre foi, o mais bem-parecido de todos, outro defeito lhe não conheço que a necessidade que viver num estado permanente de paixão.

 

Muitas vezes vamos abraçar a Cedofeita da nossa infância, que permanece com encanto balzaquiano, vestindo velhos edifícios com roupas novas. De alfarrabista se fez bar, de loja anódina, glamoroso restaurante. Exploramos esses espaços com a companhia da memória e o deslumbramento da novidade.

 

Sugeriu-me que fossemos a uma petisqueira ali para a Travessa de Cedofeita, onde havia uma imensa carta de tapas, desde os clássicos presunto, alheira, queijos de cabra, pimentos de padrón, pataniscas e um mundo de coisas boas para ferrar o dente. Alegremente, concordei. O local tinha uma decoração composta de pedaços de velhas mobílias, rádios sem préstimo, memorabilia, algo indefinível mas agradável. Quando entramos reparo que o local quase não tem luz e que todas as mesas são alumiadas por uma singela vela. Olho à volta e noto jovens casais estrangeiros, tertúlias de universitários.

 

A empregada, ela própria uma miúda, solicitamente acende a vela da mesa que escolhemos.

- Ó menina apague lá essa porra, que isto não é um jantar romântico, disse eu de seguida, muito seguro de mim.

 

O meu amigo riu-se, gozou comigo, fez-me ver quão patética era a minha estranha atitude. Como não sou gajo de dar o braço a torcer preferi ficar com a vela apagada. Tudo seria normal se não tivesse já os olhos cansados e, sem vela, a lista se tivesse transformado numa mancha ilegível. Pedi-lhe para escolher, só para não dar parte de fraco. Chegadas as vitualhas à mesa, tinha de pôr os olhos muito pequeninos, a força-me para distinguir o que era o quê.

 

Desistir de actuar em modo híper-super-másculo, solicitei que acendessem a malfadada vela e ali ficámos um bom pedaço da noite entre vinhos e pitéus. Moral da história: ataques homofóbicos impedem-te de comer sossegado e partilhar uma boa conversa; ficou a lição, para não me armar em parvo.

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Cágado de pernas para ao ar.

por Fernando Lopes, 1 Fev 14

O amor, como a vida, nunca é perfeito. Às vezes, demasiadas vezes, foge aos melhores. Nunca se entende bem o porquê, será o que pomposamente designam por «mistério das relações». Fosses tu desbragado, mulherengo e putanheiro, terias quem sabe, mais sorte neste jogo de resultado imprevisível. Não interessa se se perde, mas o empenho com que se luta. Hoje, desorientado, a ver o mundo ao contrário, como um cágado de pernas para o ar. Amanhã, volta dada, a caminhar lentamente no sentido certo. Homem que é homem, dos duros – e eu sei que és – nunca desiste de amar. Precisa de tempo para dar a volta, e lentamente, recomeçar a caminhar.

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A toque de caixa.

por Fernando Lopes, 28 Nov 13

 

Amanhã este blogue vai andar a toque de caixa. Já me tornei vimaranense por afecto. Vou jantar com os amigos e vibrar com a “Festa do Pinheiro”. Imaginem milhares de estudantes e ex-estudantes a descer uma avenida tocando “caixa”, conhecida por mim como tambor. Um barulho ensurdecedor, muita alegria e confraternização. Lá estarei, companheiros.


Acontece a 29 de Novembro. O enterro do Pinheiro e as Ceias Nicolinas iniciam as celebrações em honra de São Nicolau. É o número mais concorrido das Festas Nicolinas. Altura em que os estudantes das secundárias de Guimarães e os antigos alunos das mesmas (pertencentes à irmandade de S. Nicolau inclusive) reúnem-se e jantam pelos restaurantes do centro de Guimarães. Tradicionalmente comem rojões com grelos e papas de sarrabulho e bebem vinho verde. No final do jantar concentram-se todos no Cano, ao lado do Campo de São Mamede, e começam o cortejo do Pinheiro pelas ruas do centro de Guimarães, ao som dos bombos e das caixas, entoando os característicos "Toques Nicolinos". Actualmente outras pessoas alem dos alunos juntam-se à festa, sendo muito recentemente pessoas de localidades próximas e inclusive pessoas que a ela se dirigem do resto do país. 


Fonte:Wikipedia

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Eu tenho duas compinchas.

por Fernando Lopes, 1 Ago 13

No universo masculino, o compincha é quase sempre do mesmo sexo. Podemos encará-lo como companheiro de farra, confidente, mas sempre, sempre, pelo lado lúdico. Vai connosco beber copos, uns atrás dos outros, atura-nos confidências com piada certeira, minimiza a nossa dor ou ansiedade colocando-as em perspectiva. Tenho o prazer de ter compinchas no feminino, a Dalila e Xana. Com elas posso discutir as últimas aquisições do F.C. Porto, literatura, cinema, ir a um concerto abanar a carola ou simplesmente deitar conversa fora. Ah, mas as tuas compinchas são botas da tropa. Errado, são muita giras, assim de 80% para cima. Ah, mas são burras. Se um mestrado e doutoramento são sinais de burrice, também quero. Homenageio pois com esta posta essas duas mulheres tão especiais, companheiras de farra e angústia, sofredoras do Porto, que conseguem todo o milagre acima descrito sem perder pingo de feminilidade.

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Há histórias de vida, de resistência, com menos de um metro. Hoje, a X visitou-nos, um pequeno encanto com enorme coração. Não se recorda de ter nascido prematura, passado meses numa incubadora, lutado contra a morte e fragilidade toda a sua curta vida. Dá beijinhos, gosta de desenhos, pulseiras e sapatos de tacão alto. Dançámos a valsa do amor e da vida. Há muitas formas de tenacidade. A mais nobre de todas é, simplesmente, recusar-se a desistir, viver, e encantar-nos por isso. 

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Um amigo após ter bebido três cervejas, vê, na Avenida da Boavista, uma operação stop. Embora não estivesse etilizado, sabia que a probabilidade de passar ligeiramente o limite legal era alta.

 

Como é um rapaz de grande calma, encostou junto à polícia. Saiu do carro e perguntou:

 

- Sr. Guarda, precisava da sua ajuda: vou para Guimarães, mas não tenho a certeza do melhor caminho. Pode ajudar?

 

O polícia lá explicou o percurso mais curto, ao que ele agradeceu encarecidamente. Ainda teve direito a uma continência de despedida. Isto é sangue frio ou quê?

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