Diário do Purgatório

Impossível resistir a um convite destes. Perguntei, e podem lebar a canalha.

"Queremos conhecer os Oporto Lobers pessoalmente. E vai daí, mesmo sem grande stock, lá inventamos uma benda. Também podem usar o argumento inverso de "vamos lá conhecer a familia".

Podemos até ter ofertas. Mas ainda não sabemos bem quais.

Dizia uma senhora milionária de quem a avó era modista, esta frase lapidar sobre os doces de Natal:

- Sabe D. Conceição, para os pobres o Natal é pôr açúcar em tudo.

Pese o pedantismo da madame, morta de overdose quando as drogas eram só para ricos e os pobres apenas faleciam de cirrose, tal é absolutamente verdade. Só pobres se lembrariam de fritar pão e colocar açúcar no topo, adoçar massa e arroz. Pese embora as minhas origens modestas, terceiro de uma geração de amanuenses, dos doces de pobre apenas me ficou o gosto pelas rabanadas, com um molho secreto, que passa de geração em geração como segredo de alquimia. Só as como em casa e apenas com esse molho.

Não celebro o nascimento do salvador, porque ninguém nos pode salvar senão nós mesmo. Não acredito na caridade, mas na partilha. Não quero o céu como recompensa, quero tentar ser intrinsecamente bom. Não espero que ente misterioso me perdoe, aprendi a carregar as minhas culpas.

E, no entanto, adoro o Natal. Porque é festa, reunião, alegria. Porque nos transforma, por um dia ou dois, em seres mais humanos, mais cúmplices, mais solidários. Hoje, estarei à volta da mesa, com a pequena família que me resta. Os que partiram estão bem vivos na minha memória e lá permanecerão enquanto a razão não me abandonar. Os mais novos vibrarão com os presentes, os mais velhos farão sua essa alegria. É assim o meu Natal. A todos os meus desejos de uma noite mágica.  

é cô de rosa, exigência de uma menina há quatro anos atrás. Porque será que é sempre a vontade das mulheres que prevalece?

Já fiz o meu presépio, mas só tenho dois reis magos. O Gaspar, lá em casa não entra!

Ontem necessitei de fazer uma compras de urgência para passar à reforma uns sapatos que há muito deviam ter sido postos de lado e trocar a  gravata por uma sem nódoas incluídas. Dei por mim a pensar como a grande maioria dos homens não liga muito a roupa. Basta estar limpo. Como a maioria da rapaziada compro(ava) roupa nos saldos ou outlets, e à pazada, para evitar uma longa e contínua peregrinação por centros comerciais e afins. Devido ao carácter urgente da coisa tive mesmo de passar por um. Nesta minha admirável incursão pelo mundo do consumo, um resquício do velho hábito de viver acima das minhas possibilidades, vi meia dúzia de pessoas às compras. Longe do ar festivo de outros tempos, os rostos reflectem agora preocupação. Na semelhança a um mercado árabe olha-se para os preços, e se não se regateia, pouco falta. Não há alegria, descontracção, antes medo do futuro. Temo que mesmo com promoções o período vá ser desastroso para muitos portugueses, comerciantes incluídos. Menos IVA para o Dr. Gaspar. Parece que, este ano, o Pai Natal não vai passar por Portugal.