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Pílulas de alho Rogoff.

por Fernando Lopes, 25 Dez 13

 

Utilizo a tagCoisas de Antanho” quando me recordo de algo que me transporta à infância, ou se caracteriza por ser geracionalmente comum. Hoje, não sei porquê, lembrei-me das pílulas de alho Rogoff, o anti-oxidante da minha infância. Num mundo em que todos procuram retardar o envelhecimento por todos os meios e tal facto se tornou quase numa obsessão colectiva, penso ter descoberto o segredo do Sr. Rogoff.

 

Em primeiro lugar nunca quis vencer o tempo, contenta-se em ser um velhinho saudável, de barba branca, com rugas que atestam a vida. Tem ar que quem não sabe o que é um facelift, e a sua elegância deve-se ao trabalho duro no campo, que enrijece os músculos e o torna uma espécie de oliveira humana, respeitável e firme.

 

O Sr. Rogoff, devido à sua fixação por alho, tinha uma vida social muito limitada. Poucos amigos suportavam o seu hálito, mulher e filhos nunca os teve. Ora todos sabemos que o stress causado pelas relações sociais e familiares, envelhece. Livres destes dois factores, este celibatário manteve-se na excelente forma que a imagem retrata por muitos e bons anos.

 

Na farmácia que existe entre a Livraria do Estado e o Largo do Moinho de Vento, havia um Rogoff de madeira que dava repetitivas piruetas sobre uma barra fixa de madeira, rodeado das pílulas com o seu nome. Esta publicidade artesanal ficou na memória do então infante, até hoje. Um sinal da beleza das coisas simples, perdido nesta sofisticação de pechisbeque em que vivemos.

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Vicks Vaporub.

por Fernando Lopes, 11 Nov 13

Constipado há mais de uma semana, fungando aqui, tossindo acolá, com o nariz transformado numa pingadeira, só um remédio antigo me desentope eficazmente o beque; o velho Vicks Vapospray. Uma coisa puxa a outra e recordei-me de um velho remédio de infância, o Vaporub, que se esfregava no peito antes de deitar. Descongestionava, deixava um agradável odor a eucalipto, e, se não curava, dava uma sensação de alívio inigualável.

 

Há até uma história caricata entre dois sexagenários que envolve o Vaporub. Prontos para o amor à moda antiga, isto é, de luz apagada, o homem confunde a embalagem do Vicks com a de lubrificante. Ambos só deram fé do sucedido quando o acto se tornou mais “ardente”. A senhora, em sofrimento com o fervor causado pelo produto, só dizia:

- Bufa, Manel, bufa!! 

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A Moulinex da minha infância.

por Fernando Lopes, 29 Out 13

Houve um tempo antes da Moulinex e do picar carne em 1,2,3. O dispositivo acima era “a máquina” da minha infância. De procedimento simples, cortava-se a carne em pequenos pedaços, introduziam-se na parte de cima do aparelho e rodando a manivela obtinham-se os fios de carne que saíam pelos orifícios laterais. Como a coisa era atarraxada à mesa de operações, exigia uma dose moderada de braço. Demasiado empenho na manivela fazia com que o parafuso não segurasse o aparelho e tudo tombasse, vindo de imediato o calduço da mãe. Pouca força não produzia carne picada. Tal como hoje, a perfeição requeria um equilibrado balanço.

 

Coisa de antanho lembrada pelo meu amigo Carlos.

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Cala-te, ó parreco!

por Fernando Lopes, 10 Out 13

Por questões de afecto e bolsa, o pai teve vários Minis. A buzina era fracota e fazia barulho que, goste-se ou não, se assemelhava a um pato. Um dia, quando buzinava a um qualquer tipo, teve de ouvir:

- Cala-te, ó parreco!

Furioso, rumou à oficina e mandou instalar a buzina mais potente que havia. Disseram-lhe que era quási igual à de um camião.

- Quero ver quem é que agora me chama parreco!



Memória ressuscitada por este vídeo.

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Linguagem colorida.

por Fernando Lopes, 19 Set 13

Todos sabem como é rica a linguagem por estas terras do norte. Há muitos anos atrás sentei-me ao pé de um daqueles lavadouros públicos, algures em Rio Tinto. Tinha feito um longo percurso a pé e aproveitei para descansar e escutar a conversa – sim, às vezes escuto diálogo alheio. O bate boca descambou em troca de mimos, até que uma das mulheres acusou a outra de mal fodida. Ouvi, com estes que a terra há-de comer, a descrição mais rica para actividade sexual intensa:

- Mal fodida, eu? Até tenho calos no cu dos colhões do meu homem.

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Bola Nívea.

por Fernando Lopes, 23 Ago 13

Imagem roubada à Nucha, a gaja da franja

 

Na despedida de uns amigos não resisti à piada “Encontramo-nos na Bola Nívea!”. A filha olhou para mim com ar de extraterrestre, e aí percebi mais uma vez o que é o gap geracional. Muitas das nossas praias tinham uma espécie de posto de vigia patrocinado pela célebre marca. Uma referência num mar de gente, toalhas e areia. Modo de fugir à vigilância dos pais e vaguear livremente, encontrar namoradas, marcar um jogo de futebol ou vólei, estar com amigos. A Bola Nívea deve estar quase extinta das nossas praias, há anos que não vejo uma. Marcaram uma geração, o início de um contacto mais livre entre rapazes e raparigas quando isso ainda era tabu. Quantas paixões terão começado com um encontro junto a esse ícone. Era um tempo em que só havia Olá de laranja , ananás e Epá, um gelado dava para três, o famoso “dá-me uma chupa”, se jogava ao prego e a vida era simples: tudo o que necessitávamos para ser felizes estava ali, a dois passos da Bola Nívea.  

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Eu ainda sou do tempo…

por Fernando Lopes, 16 Jul 13

em que mães desapiedadas nos obrigavam a vestir camisolas e calças que picavam como o diabo. Todos os que têm 45 ou mais sabem que nos inícios dos anos 70, sabe-se lá porque razão para além da crueldade pura, algum parvalhão punha lã nas calças e camisolas. Obrigavam-nos a vestir calças em que tínhamos de andar como se fossem andas, com as pernas muito abertas. E quem não teve uma camisola/camisola interior que nos obrigava a caminhar como um robot, com os braços abertos e quase sem respirar? Coçávamo-nos mais que cão com pulgas, lembram-se? E não adiantava nada dizer: “Ó mãe isto pica!”

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Bacalhau “Foda-se!”.

por Fernando Lopes, 4 Jun 13

A mãe deve ter enorme desgostou no que o seu ventre gerou. Não bebe, não fuma, nunca diz asneiras. Moderna nas ideias, conservadora nos hábitos, quando pai e avô paterno eram vivos preservava a tradição do almoço dominical. Existia sempre um pequeno conflito sogra-nora, daqueles que nunca descambam mas estão sempre latentes. Naquele domingo tinha-se afadigado a preparar um bacalhau com broa com todos os predicados. A avó observava-a entre o curioso e inquisidor. Um cheiro magnífico. Tira-o do forno, orgulhosa, preparando-se para o levar para a sala quando tropeça no tapete junto à mesa da cozinha. Assadeira quebrada, refeição no chão e um sonoro “Foda-se!”. Foi a primeira e última vez que a ouvi dizer um impropério, mas ainda hoje quando faz o fiel amigo no forno não escapa à graçola:

- Ó mãe, vais fazer bacalhau “Foda-se!”?

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E o Coma com Pão?

por Fernando Lopes, 11 Mar 13

 

Hoje de manhã, enquanto levava a cria à escola, na rádio, recordavam-se os sabores de infância. Alguns clássicos que me encheram de prazer foram lembrados: Nestum Com Figos, Farinha Pensal, pão com manteiga e açúcar, gemas de ovos com canela, os guarda-chuvas de chocolate da Regina, os cigarros Porto do mesmo sabor, Tulicreme, uma infinidade de sabores das gerações agora entre os 30 e os 50.

 

Porque é que comíamos estas bombas calóricas e não engordávamos? Porque podíamos. O exercício físico era parte integrante do dia-a-dia das crianças. Bicicleta, futebol, trepar às árvores, jogar às caçadinhas, todos os nossos tempos livres eram ocupados com movimento.

 

Hoje, a minha filha não come fritos em ambiente escolar, tem as gulodices racionadas como todos os meninos de 7 anos. A geração que passa a vida a coçar o cu aos tablets, ou a movimentar os dedos furiosamente nas Nintendo, X-Box, Playstation e afins, pura e simplesmente perdeu o privilégio destes sabores para não ficar prematuramente badocha.

 

Naqueles minutos em que animadores e ouvintes eram meninos gulosos, ninguém referiu o meu ícone dos sabores de infância, o chocolate Coma Com Pão. Uma googladela permitiu-me descobrir que foi reintroduzido no mercado em 2011. Vai um?

 

adenda: quem quiser recordar o seu sabor de infância, faça o favor de partilhar.

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O iPad do meu tempo

por Fernando Lopes, 8 Mar 12

Tinha a vantagem de não gastar bateria, apesar de monocromática. Um colega mais afoito, de seu nome Rogério, descobriu que retirando os bordos de madeira e lançando para as poças de água em dias de chuva deslizava de um modo fantástico, proporcionando galhofeiros bate-cus. Eventualmente fomos os percursores do skimming. Ainda hoje pode ser encontrada com preços a partir de 1,5€.

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