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"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better."
por Fernando Lopes, 14 Mar 18
As mulheres – OK, vamos especificar correndo o risco de sevícias – a minha mulher, tem uma dificuldade enorme em escolher o que comer. Quanto mais opções tem, mais se baralha, lendo e relendo o menu até os restantes comensais desmaiarem de fome. Vamos quase sempre ao mesmo restaurante ao sábado. A lista é sempre a mesma, excepção feita à meia-dúzia de pratos do dia. Pois a santinha – que nosso senhor a conserve – lê-o na íntegra todas as semanas como se da melhor literatura se tratasse. No fim escolhe sempre a opção que lhe tinha chamado a atenção inicial, não sem antes percorrer cuidadosamente as noventa e nove restantes. Hoje decidimos pedir pizza. Devia ser fácil, certo? Não. Depois de analisar as 1.001 opções existentes, descobriu que era mais barato e prático pedir três médias em vez de uma familiar. Voltou à estaca zero. Depois questionou-nos sobre cada um dos ingredientes. Confirmou os nossos desejos. Depois, reconfirmou-os. Um processo que deveria ser simples, demorou meia-hora. É só a minha mulher que é assim, ou as senhoras são sempre tão complicadas?
por Fernando Lopes, 24 Fev 18
Cada vez que passeio pela cidade continuo a cruzar-me os despojos dos que nada têm. Colchões e cobertores arrumados debaixo de uma qualquer entrada à espera que chegue o frio, e que debaixo dos andrajos alguém encontre algum calor e conforto. Na rotunda da Boavista um desses homens impressiona. Prostra-se como se de um muçulmano virado para Meca se tratasse. Esconde a cara entre os braços e coloca as mãos velhas e sujas por cima da cabeça, gemendo e implorando esmola. O receptáculo das moedas é um copo de Pepsi, ironia das ironias, a humilhação de um ser humano encimada por um copo de uma multinacional. Teatralização à parte, um homem assim, prostrado, gemendo e escondendo a face já perdeu tudo, até o amor-próprio. Situações assim deixam-me triste e envergonhado por pertencer a uma sociedade que tal permite.
por Fernando Lopes, 12 Fev 18
quando acordas, desligas o alarme do telemóvel, e dizes: - Bom dia!
Do outro lado um ser estremunhado olha-te com um olho aberto, outro fechado, e pergunta com alguma severidade:
- Não te esqueceste de lavar as cuecas, pois não?
por Fernando Lopes, 10 Fev 18
Não tenho nenhuma certeza, sequer opinião, sobre eutanásia, excepção à minha, que tenho a ideia de praticar se algum dia a dor se tornar insuportável. Mas pode acontecer de me acobardar, agarrar-me à vida, a uma esperança inexistente.
Há uns anos tive de pedir que abatessem o meu cão, Fred de seu nome, que me acompanhou durante treze anos. Não estive com ele nos momentos finais, fugi dali a chorar. Hoje foi a vez do Lucky, um dogue alemão de catorze anos, cão da minha sogra. Como ninguém tinha coragem para o acompanhar, voluntariei-me. Nem um grão de arrependimento. Ao contrário do Fred, que estava catatónico, o Lucky ainda estava orientado. Reconheceu-me, lambeu-me as mãos, tentou deitar-se de barriga para o ar para lhe bater na peitaça como costumava fazer.
Decidi não chorar ou ser dramático. Afaguei-o, disse-lhe que era um cão grande e tonto, chamei-lhe feioso, exactamente como ele gostava que o mimassem num dia de sol.
Não houve drama, morreu sendo acarinhado e ouvindo-me murmurar-lhe ao ouvido – Lindo menino, o Lucky é lindo. Se passasse pelas mesmas circunstâncias, fá-lo-ia de novo. Partiu para o céu dos cães e deve estar nas correrias com o Fred.
por Fernando Lopes, 1 Fev 18
Num jornal online, Nuno Artur Silva declara «ter os inimigos certos. Que mais posso desejar?». Não sendo como o galego, que não tinha inimigos porque os havia matado a todos, tenho os meus «inimigos de estimação». Gosto de os ter porque personificam tudo o que me causa asco: imodéstia, matreirice, falta de carácter, problemas de ego inflado, estúpidos que pensam ser mais espertos que todos os outros, calões que acham que se esforçam imenso, vendilhões de porra nenhuma. Gosto deles assim, todos os dias me relembram tudo o que tento não ser. Mais que Nuno Artur Silva, acho que ter inimigos é inerente a quem se esforça por ser íntegro e honesto. No fundo odeiam-nos porque sabem que somos melhores seres humanos do que alguma vez eles serão. Gosto muito de ter inimigos, e gosto muito dos meus inimigos.
por Fernando Lopes, 29 Jan 18
Há dias em que sobre mim paira uma nuvem cinzenta, carregada de chuva, raios e tormentas. Ontem foi um desses dias, em que o breu ofusca a luz. Valem-me amigos leais, almas carinhosas, que insistem em me empurrar para lá do óbvio, seja com palavras amigas ou com inconformismo exclusivo de almas generosas. Soindes quem me baleis, como se diz por aqui.
por Fernando Lopes, 21 Jan 18
Muitos dos tipos da minha idade ambicionam poder ter um Porsche, como se a potência debaixo do pé compensasse a que começa a dar sinais de fraqueza «entre pernas». A verdade é que 54 são 54, as maratonas sexuais são coisa do passado, «cumprir» os deveres conjugais sem grande embaraço já não é mau, vamos olhando para o Viagra como uma solução de curto-médio prazo, e não algo que nos fazia sorrir como há dez anos. É a puta da vida.
Este vosso humilde escriba anda apaixonado por um MINI. Já aqui escrevi que na infância o pai Tinha um Mini Cooper, que nos inícios dos anos 70 nos levava ao Algarve em intermináveis viagens, malas em cima do tejadilho.
Agora, não sei por nostalgia, gostava de abandonar a barcaça de quase seis metros que conduzo por algo mais maneirinho, prático, e que me reavivasse essas boas recordações de um tempo em que tudo era possível. Será que sou estranho? Os meus sonhos materiais nunca foram os típicos – nunca ambicionei uma casa com piscina, um BMW na garagem e um camarote no Dragão. Agora, se e quando puder, vou comprar um MINI.
por Fernando Lopes, 15 Jan 18
Todo o ruído criado à volta de hollywodesco assédio diz-me pouco. Não que o não condene, mas inspira-me pouca preocupação que starlettes venham bradar aos quatro ventos que foram assediadas. A maioria delas seriam adultas, capazes de se defender e de dizer não. Estava em Cedofeita, esplanada do costumes. Uma jovem com pouca mais de 20 anos contava à avó como uma colega sua, ainda menor, tinha recebido uma proposta financeira para ir para a cama com um homem mais velho, não sei se patrão ou cliente de algum estabelecimento onde a jovem trabalhava. Percebia-se pelas roupas e jeito de falar que eram gente de origem humilde. Havia ali um sentido de inevitabilidade, como se ser jovem, bonita, e precisar do emprego a(s) levasse a aceitar aquilo. Que o assédio vem quase sempre de quem tem ascendente sobre o outro é normal, anormal é que miúdas que precisam de trabalhar, pensem com fatalismo, que serem assediadas é algo a que se não pode fugir, para não perder o trabalho. Essas jovens, com pouca maturidade e muita necessidade, raramente se queixam. Fico a pensar que também esta história do assédio é muitas vezes uma questão de classe social. Era assim nas fábricas, é agora, nesta era pós-industrial, nas boutiques e cafés da moda. Assedia quem pode, cala quem necessita.
por Fernando Lopes, 12 Jan 18
Os Estados Unidos são um país historicamente recente, quase imberbe se comparado com os padrões europeus. Convivi diariamente com americanos durante uma década, não os acho genericamente estúpidos. A impressão que me ficou – e vale o que vale – é que são ingénuos, infantis, e um bocado ignorantes. Como qualidades, são extremamente capazes socialmente, simpáticos, e muito bons nas áreas em que se especializam. Saindo da sua área de estudos e trabalho para o que chamamos interesses e cultura geral, o panorama que se me deparava era o de um deserto. Uma impressão individual que mais não é que isso mesmo – uma impressão. O americano médio é criado na ideia que que pouco mais existe para além dos Estados Unidos, que a Europa é uma espécie de museu vivo, e que os países em vias de desenvolvimento ou subdesenvolvidos são mesmo shitholes.
Trump é suficientemente estúpido para escrever publicamente o que o americano médio diz à boca pequena. Provou ao que vinha quando em plena campanha eleitoral enfatizou a ideia de criar um muro com o México. A América de Trump é branca, supremacista, racista e intolerante. Mas a América de Trump é a de muitos milhões de americanos, não só de rednecks e Tea Party, um princípio etnocentrico atravessa muitas daquelas almas.
Contrariando a anteriormente generosa política de acolhimento, a tendência para julgar inferior, expulsar, atribuir aos estrangeiros os males dos EUA, é cada vez mais frequente. Existe a séria hipótese de 800 mil seres humanos criados desde a infância nos EUA, que serviram o exército dos EUA, que mais não recordam que o país que os acolheu, serem expulsos porque nasceram em shitholes.
Aquando da eleição de Trump, em conversa privada, o jornalista Ricardo Alexandre, que me dá o privilégio de ser meu amigo, salientava que o que mais o assustava era a insensibilidade de Trump, ele que tinha feito a cobertura das eleições americanas. Palavras a que na altura não atribui a importância devida e hoje se revelam quase proféticas.
por Fernando Lopes, 30 Dez 17
Quase nos 55 continuo a ficar surpreso e entusiasmado com o milagre da vida. Tenho um sobrinho «novinho em folha», estreou-se entre nós na passada 4ª feira. Quem me conhece sabe que sempre adorei bebés e crianças, de alguma forma lamento não ter tido mais filhos. Pego no pequenito ao colo e a sua fragilidade e em simultâneo o mundo que se lhe abre, deixam-me nas nuvens. Um bebé é como uma história por contar, por caminhos que são só seus escreverá um futuro que só a ele pertence. Não sei se a maioria dos homens são assim, mas sou aquele chato que brinca com os miúdos no restaurante, que faz caretas e palhaçadas, que os ensina a dar traques com as mãos. Penso que tenho jeito, acima de tudo adoro aquelas pessoas pequenas. Anseio pegar nele, brincar, fazer tonterias. Nada melhor que ter um futuro à espera de ser escrito ao colo.
Interessante chegar aqui anos mais tarde aqui e pe...
Achei muito interessante atualmente esta sua posta...
boa tarde , estive neste sitio esta semana e pergu...
O Pretinho do Japão é citado, como profeta, em Ram...