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Reflexões ao despertar

por Fernando Lopes, 20 Mar 12

7:30. O despertador toca. Arrasto-me para fora do quarto. Entro no escritório e acendo um cigarro enquanto olho para a janela. Por detrás das cortinas apercebem-se as movimentações nos prédios vizinhos. Famílias como a minha, a despertar, preparando as crianças, tomando o pequeno almoço. Descem para a garagem um pai e dois miúdos. São pequenos, talvez entre 5 e 10 anos. O telemóvel marca 7:40. A violência que hoje é exercida sobre os pequenos está bem patente na forma como se arrastam. Tal como a minha filha e milhares de outras crianças permanecerão 10 a 12 horas fora de casa, entre escola, ATL, trabalhos e actividades extra-curriculares. A sociedade transformou-se, não para melhor. Hoje os miúdos socializam pouco fora do circuito escolar. Não há as brincadeiras na rua com os vizinhos, não há tardes ou manhãs livres depois da escola, o aconchego parental de quem ficou em casa e prepara um lanche, desapareceu. A sociedade mudou, os pais abalam de manhã e chegam à noite e com eles arrastam as crianças. O progresso económico e social que representa o facto dos dois pais trabalharem mostra aqui o reverso da medalha. Os nossos filhos têm pequeníssimos espaços de fruição e brincadeira. Andam no ballet, karaté, inglês, teatro, música. Porque não temos para lhes dedicar, para exercer a parentalidade. Vivemos em guetos, por escalões etários. Os velhos nos lares, activos no trabalho, infantes na escola. Só ocasionalmente estes mundos se cruzam, e isso empobrece-nos a todos.

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4 comentários

De SGM a 20.03.2012 às 15:45

Todos os dias penso o mesmo quando tiro o meu pequeno da cama... Ainda não tem dois anos e às 07h30 está a entrar no infantário. Pergunto-me para quê...

De Fernando Lopes a 20.03.2012 às 16:03

Acho que todos sentimos o mesmo. Temos famílias desestruturadas por força das circunstâncias. Trabalhamos para lhes dar mais conforto e somos forçados a menorizar os afectos e o contacto entre as várias gerações. É, no entanto, difícil sair deste sistema, pois temos casas para pagar e comida para comprar. O capitalismo como factor de escravatura das famílias em todo o seu esplendor. Talvez se possa optar por viver com menos e trabalhar menos, mas o “mercado de trabalho” não deixa.


Abraço

De Horizonte XXI a 21.03.2012 às 10:29

Bem, muito bem amigo, a máquina produtiva, os seus resíduos e os escravos que se seguem.

E chegamos ao fim da vida, passámos por ela contorcendo-nos constantemente para por um lado nos sentirmos enquadrados no panorama geral e por outro lado não deixar morrer aquilo que no fundo sabemos deveria ser a vida.
O resultado é para a maioria de nós deficitário.

Abraço livre

De Fernando Lopes a 21.03.2012 às 10:50

Horizonte XXI, caro amigo,

Na minha modesta opinião produzem-se bens, serviços, alimentação, como nunca. Sem o excesso de uns haveria recursos para todos. Mas, como sabes, os patrões querem empregados a 120% que trabalhem 12 horas por dia. Uma das soluções para o desemprego poderia ser o incentivo de part-times e outras formas de trabalho parcial. Se propuseres isso ao teu chefe, serás visto como um calão, que não quer trabalhar. A pressão é enorme.

Abraço livre

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