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Como portuense e portista interessa-me pouco a questão Sporting, Olhando friamente, a crise não é do Sporting, é de uma sociedade em que o único valor é vencer. Importamos lixo alimentar dos EUA e estamos a valorizar modelos que não eram os nossos. A dicotomia winners/loosers ou vencedores/vencidos, sempre me pareceu de um reducionismo atroz, até porque, as mais das vezes, somos vencidos e não vencedores. Quando o teu marido ou mulher te deixou, foste vencedor ou vencido? Quando a promoção no emprego foi para o lambe-botas, ganhaste ou perdeste? Quando no fim do mês tens 100 ou 200 euros na conta, em que categoria te classificarias? Não interessa tanto se ganhas ou perdes, mas se jogas com empenho, honestidade, entusiasmo. Às vezes sai-nos tudo bem, outras nem por isso. Valemos menos por ter tentado? Há muito mais que vencer ou perder, a vida, o desporto, é muito mais que isso, é uma coisa tão simples como lutar com dignidade. Uma sociedade que merece o meu aplauso é aquela que apoia os que estão em baixo e aplaude os que ganham. Sem hipocrisia, com carácter, sabendo bem que ora estamos num lado, ora no outro.

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E agora para algo politicamente incorrecto...

por Fernando Lopes, 17 Mai 18

Tenho procurado manter-me calado por não ter coisas muito agradáveis para dizer. Hoje apetece-me falar de arredamento no centro do Porto, algo que conheço bem. Desde 1975 que o Estado obrigou os senhorios a serem suporte financeiro da inexistência de política de habitação. Durante décadas as rendas estiveram congeladas, para alterar esse estado de coisas foram dados tímidos passos, titubeantes, que valem quase nada. Quem investiu num prédio ou apartamento para alugar tem hoje uma mão cheia de nada e outra de porra nenhuma.

Escrevo com conhecimento de causa, na Rua do Almada, familiares têm um prédio que tem rendas de 200 euros por um T2 e uma armazém de mais de 600 m2 por 500. O que se gasta anualmente em obras de manutenção é superior aos que os inquilinos pagam, isto é, essas pessoas têm um rendimento negativo. Todos os anos. Há décadas.

 

Com os centros das cidades alvo de grande procura, existem imensas remodelações. O meu melhor amigo é arquitecto e chama-lhe, bem, «fachadismo». Destrói-se o edifício e e a sua história, rebentam-se com clarabóias e vitrais, fazem-se muitos T0s para alojamento local, ignorando por completo o legado histórico e de época que muitos desses edifícios representam. O que está a ser feito nesta cidade não é arquitectura, é uma espécie de «prostituição» ao m2.

 

O Porto, o País, não tem que ter os privados a suportar uma política social de habitação que o Estado não assume. O centro de Londres, Nova Iorque, Paris, Lisboa, não é habitado por idosos pobres, com rendas sociais subsidiadas por particulares. Lamentavelmente, é necessário restaurar em vez de fachadar. Isso custa muito caro, depois da obra pronta apenas famílias de classes altas lhe podem chegar. É a vida.

 

O governo pode sempre comprar a preços de mercado, restaurar, fachadar, fazer o que entender, não pode é voltar a um PREC à moda da Roseta.

 

Compreendo bem o drama social que isso acarreta, o desenraizamento de idosos, as lágrimas que isso causa. Mas não é aos proprietários que cumpre esse papel. Disse. Agora chame-me fascista à vontade. Quero que dane.

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