Diário do Purgatório © 2012 - 2014
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"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better."
por Fernando Lopes, 24 Fev 18
Cada vez que passeio pela cidade continuo a cruzar-me os despojos dos que nada têm. Colchões e cobertores arrumados debaixo de uma qualquer entrada à espera que chegue o frio, e que debaixo dos andrajos alguém encontre algum calor e conforto. Na rotunda da Boavista um desses homens impressiona. Prostra-se como se de um muçulmano virado para Meca se tratasse. Esconde a cara entre os braços e coloca as mãos velhas e sujas por cima da cabeça, gemendo e implorando esmola. O receptáculo das moedas é um copo de Pepsi, ironia das ironias, a humilhação de um ser humano encimada por um copo de uma multinacional. Teatralização à parte, um homem assim, prostrado, gemendo e escondendo a face já perdeu tudo, até o amor-próprio. Situações assim deixam-me triste e envergonhado por pertencer a uma sociedade que tal permite.
por Fernando Lopes, 12 Fev 18
quando acordas, desligas o alarme do telemóvel, e dizes: - Bom dia!
Do outro lado um ser estremunhado olha-te com um olho aberto, outro fechado, e pergunta com alguma severidade:
- Não te esqueceste de lavar as cuecas, pois não?
por Fernando Lopes, 10 Fev 18
Não tenho nenhuma certeza, sequer opinião, sobre eutanásia, excepção à minha, que tenho a ideia de praticar se algum dia a dor se tornar insuportável. Mas pode acontecer de me acobardar, agarrar-me à vida, a uma esperança inexistente.
Há uns anos tive de pedir que abatessem o meu cão, Fred de seu nome, que me acompanhou durante treze anos. Não estive com ele nos momentos finais, fugi dali a chorar. Hoje foi a vez do Lucky, um dogue alemão de catorze anos, cão da minha sogra. Como ninguém tinha coragem para o acompanhar, voluntariei-me. Nem um grão de arrependimento. Ao contrário do Fred, que estava catatónico, o Lucky ainda estava orientado. Reconheceu-me, lambeu-me as mãos, tentou deitar-se de barriga para o ar para lhe bater na peitaça como costumava fazer.
Decidi não chorar ou ser dramático. Afaguei-o, disse-lhe que era um cão grande e tonto, chamei-lhe feioso, exactamente como ele gostava que o mimassem num dia de sol.
Não houve drama, morreu sendo acarinhado e ouvindo-me murmurar-lhe ao ouvido – Lindo menino, o Lucky é lindo. Se passasse pelas mesmas circunstâncias, fá-lo-ia de novo. Partiu para o céu dos cães e deve estar nas correrias com o Fred.
por Fernando Lopes, 1 Fev 18
Num jornal online, Nuno Artur Silva declara «ter os inimigos certos. Que mais posso desejar?». Não sendo como o galego, que não tinha inimigos porque os havia matado a todos, tenho os meus «inimigos de estimação». Gosto de os ter porque personificam tudo o que me causa asco: imodéstia, matreirice, falta de carácter, problemas de ego inflado, estúpidos que pensam ser mais espertos que todos os outros, calões que acham que se esforçam imenso, vendilhões de porra nenhuma. Gosto deles assim, todos os dias me relembram tudo o que tento não ser. Mais que Nuno Artur Silva, acho que ter inimigos é inerente a quem se esforça por ser íntegro e honesto. No fundo odeiam-nos porque sabem que somos melhores seres humanos do que alguma vez eles serão. Gosto muito de ter inimigos, e gosto muito dos meus inimigos.
Interessante chegar aqui anos mais tarde aqui e pe...
Achei muito interessante atualmente esta sua posta...
boa tarde , estive neste sitio esta semana e pergu...
O Pretinho do Japão é citado, como profeta, em Ram...