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Guarda-Nocturno.

por Fernando Lopes, 12 Nov 15

Entre as profissões que desapareceram da cidade está o guarda-nocturno. Ao que sei a coisa modernizou-se e nada é como dantes. Quando era jovem a maioria dos guarda-nocturnos eram polícias reformados. Ao que consta, havia também alguns que exerciam outras profissões durante o dia e aproveitavam a noite para reforçar o parco orçamento. Sem vencimento fixo dependiam da boa-vontade de comerciantes e moradores.

 

Lembro-me de os ver com um cassetete a certificarem-se que as portas das casas e lojas estavam bem fechadas. Eram uma referência dos meus tempos boémios, pois como os bonecos de um relógio de cuco, marcavam horas perdidas, conversas à toa, bebedeiras homéricas.

 

Uma das condições para se ser um bom guarda era gastar cinco litros de tinto aos cem. Dos que conhecia e se passeavam por Cedofeita e Batalha, apenas um mantinha sobriedade. Recordo alguns episódios pitorescos: enquanto deitávamos conversa fora no cruzamento entre Cedofeita e a Figueiroa o sinal passa a vermelho e o velho Ford do guarda pára. Ao arrancar, sobe o passeio e bate com toda a força no semáforo, tombando-o. Sem sair do carro recua e estaciona-o a 50 metros junto à esquadra. Sai cambaleante e a barafustar, certamente por o caminho estar cheio de obstáculos inesperados.

 

O da Batalha era agricultor, e tinha um perfume particular que se sentia a cinco metros. Um misto de cheiro a estume, hálito fétido e vinho tinto. Penso que lhe bastaria levantar um sovaco para fazer tombar ou pôr a fugir o mais ladino dos larápios.

 

Tenho uma certa nostalgia da figura do guarda, marcava o tempo em que a cidade ficava apenas ocupada pelas almas da noite e estes seus peculiares zeladores.

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