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Geografia do amor desencontrado.

por Fernando Lopes, 3 Nov 15

Dizem que o amor é feito de encontros e desencontros, um perpétuo movimento de alinhamento desalinhado comandado por titereiro incerto e fios invisíveis. Nalguns casos, o coração desencontra-se da cabeça. Não é grave, o amor é sempre comandado pelo coração em detrimento do que ordena o bom-senso. Quanto maior for este desencontro, maior a luta, as emoções desalinhadas, o sofrimento. Não é um desencontro infeliz, todos sabemos que sofrer por amor tem algo de agridoce e que por capricho do coração são sempre os momentos melífluos que permanecem nos caminhos sinuosos da memória. Outras vezes esse amor desencontra-se porque os corpos se não cruzam. A dimensão física do amor, menorizada durante séculos, perdida nos obscurantismos religiosos que ainda hoje subsistem, dá-lhe outra plenitude. Não amas verdadeiramente se não fizeste do corpo do outro a tua casa e se ele não fez do teu sua. Outras vezes o amor desencontra-se quando amas e não és amado ou recebes sem frémito de retribuir. Chamam-lhe amores não correspondidos, são também eles amores desencontrados em variantes erradas da geografia amorosa. Em algumas estranhas situações esse desencontro coloca os amantes em situações de geografias fisicamente distantes. Aí, como semente em vaso não regado, o amor definha e morre. Ou fica muito quietinho, sossegadinho, a hibernar como as flores no deserto. Uma gota é q.b. para o fazer despontar. Novo ou velho, bonito ou feio, alto ou baixo, gordo ou magro, todos estamos pacientemente à espera da gota de água que nos faça renascer. Acontece às vezes durante toda uma vida, outras apenas um só instante. Vale sempre a pena porque todos vivemos para sentir esse segundo que dura a eternidade. (*)

 

(*) texto inspirado no mote do meu amigo Filipe.

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