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O Fernando quer um alemão.

por Fernando Lopes, 29 Set 15

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Não me refiro a um alemão de carne e osso, antes a um daqueles popós de luxo, poluentes e caríssimos que fazem a alegria do pato-bravo dos cinco continentes. Recordo que o sonho máximo da classe amanuense a que pertenço é ter um VW Passat, Mercedes ou BMW e um camarote no Porto. Ou no Benfica, vá.

 

Qualquer candidato a chunga com cinco coroas no bolso aspira a um alemão, mesmo que haja japoneses, franceses ou ingleses a prestar o mesmo serviço por menos 15.000 euros. É bom, é alemão, dirá com ar sério, encostando o queixo ao peito e reforçando a já exuberante papada.

 

Os alemães, esse poço de virtude, andaram a enganar meio mundo. Os seus intocáveis carros, e não só os VW, andam a software de hacker, deitando pelas bufadeiras ar quase respirável quando alguém lhes vigia a emissão de CO2 e poluindo mais que o comboio do Tua quando ninguém está a ver.

 

Lembro a Claudia Schiffer a fazer publicidade à Opel e o seu «It’s a German», como se isso por si mesmo fosse garantia de um patamar superior. E que tal «It’s a German thefore it polutes»?

 

Chego a uma conclusão preocupante: a VW não enganou só cidadãos, enganou estados. Parte dos impostos sobre os automóveis têm como base as emissões poluentes. Quanto é que os estados deixaram de receber ao atribuírem aos veículos alemães emissões falsas? Quererá «Passos, o alemão» incomodar a Sra. Merkel e a todo-poderosa VW com a sua Autoeuropa?

 

Recordo também a sra. chinesa que deixou o filho sozinho num dia de calor e ficou possessa porque lhe partiram o vidro do BMW. Sei bem que a estupidez aparece em modo multimarca, mas não deixo de me interrogar, será que faria o mesmo se o chaço fosse um Peugeot ou Toyota? Provavelmente não, não era alemão.

 

Definitivamente, este vosso escriba lida mal com a mentira, com os fariseus da indústria alemã, que dando-se ares de seriedade intocável e trabalho perfeito, tendo-se como reserva moral da Europa, montam esquemas fraudulentos.

 

Afinal não, não quero um alemão.

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A noite da arma.

por Fernando Lopes, 29 Set 15

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Conhecem os habitués o meu fascínio por personagens extremas, das que vivem a vida até ao limite e nem sempre dela regressam intactos. Não sei porque sou tocado por essas experiências limite, por um mundo de artistas e homens de letras que são o outro lado do espelho, se perdem num mundo de drogas, álcool, devassidão. Talvez seja o desejo de conhecer uma outra face da realidade, uma projecção infantil, um momento em que sou confrontado com a minha entediante normalidade. Encontrei este livro sobre perda, luta, memória.

David Carr foi um viciado durante mais de vinte anos – primeiro em erva, depois coca, e finalmente crack – antes de a perspectiva de perder os seus dois gémeos recém-nascidos o tornarem sóbrio numa tentativa de ganhar a batalha pela custódia à mãe dealer de crack. Uma vez recuperado, descobriu que as memórias dos seus anos «perdidos» divergiam – às vezes radicalmente – das da sua família e amigos. A noite, por exemplo, em que o seu melhor amigo lhe apontou uma arma. «Não», disse o amigo (para horror de David, pacifista de longa data) «Eras tu que tinhas a arma.». Usando todas as suas capacidades como repórter de investigação, decidiu pesquisar a sua própria vida, entrevistando todos, dos seus pais aos ex-colegas, até ao polícia que o deteve, dos médicos que o trataram, aos advogados que lutaram para provar que estava apto a tomar conta dos seus filhos. Inflexivelmente honesto e extraordinariamente bem escrito, o resultado é em simultâneo um relato chocante das profundezas da dependência e uma reflexão sobre como – e porquê – as nossas memórias nos enganam. Como disse David, recordamos as histórias com que conseguimos viver, não aquelas que realmente aconteceram.

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