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Notas para uma filha.

por Fernando Lopes, 15 Set 15

Começas a ameaçar entrar na adolescência. Ora, tu não compreendes bem isto, mas um dos momentos que um pai mais teme é quando a sua filha começar a olhar para outros homens, ainda por cima com ideias libidinosas. Mesmo sabendo, o pai fica contristado quando dizes que o Luís Miguel da telenovela é mais giro que eu, mas só um bocadinho…

O moço até é bem-apessoado, não te posso acusar de mau-gosto, mas um pai nunca está preparado para o momento em que deixa de ser o centro das atenções da sua menina.

 

Temo o tempo já não muito longínquo em que apareças com o «Tó Zé» cá em casa, e o teu amado seja daqueles com a pala do boné para trás e calças à caga-na-saquinha. Para um pai, a sua menina nunca cresce, pelo menos não o suficiente para deixar de ser a sua menina. Criado num mundo de homens, em que o calduço era a forma de saudação mais suave, se bebiam gasosas de golada para ver quem dava o maior arroto, um dos desportos favoritos era pôr-se em cima de um muro e ver quem fazia chichi mais longe, se compravam cigarros avulso desde o ciclo, e se gamava no supermercado, o pai sempre viu as meninas como algo etéreo, a proteger, coisas frágeis e preciosas. Sei hoje que não é assim, que a maioria das mulheres são bem mais resistentes à adversidade, mais duronas que nós homens. Mas agora, ou daqui a cem anos, serás sempre a minha menina, o bebé que adormecia em cima da minha pança com Placebo aos berros.

 

Por isso peço-te humildemente que demores a entrar na adolescência o mais tempo possível. O mundo pode esperar por ti, eu nem por isso.

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