Diário do Purgatório © 2012 - 2014
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"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better."
por Fernando Lopes, 27 Fev 15
«Está para sair um livro com entrevistas suas... Esse livro é uma merda! Isso é uma aldrabice. É bom para andar por essas pequenas editoras.» Luiz Pacheco, semanário «Sol», Janeiro de 2008. Grande prosador, Luiz Pacheco foi também um dos melhores conversadores da imprensa. Estas entrevistas, publicadas nos últimos 20 anos em jornais e revistas, apresentam-nos uma das vidas mais agitadas da literatura portuguesa e são bem a expressão de uma inteligência desperta, desafiadora e implacável, batendo forte e feio em algumas personalidades da nossa vida pública. Caso humano riquíssimo, impossível de resumir aqui, o mais sensato é dar-lhe a palavra: «Luiz José Machado Gomes Guerreiro Pacheco nasceu em 7 de Maio de 1925 e espera morrer no ano 2000. Está bem-disposto, porque está desempregado. Publicou muitos livros de outros autores. Não se lembra de publicar nada (dele) que prestasse. Escreveu muitas obras e perdeu quase todas. Teve três mulheres, nove filhos e netos, nem conta. Folhetos de sua autoria: Os Doutores, a Salvação e o Menino, Carta-Sincera a José Gomes Ferreira, O Teodolito, Os Namorados, O Cachecol do Artista. Teve 18 valores na admissão. O Urbano teve 12.»
por Fernando Lopes, 26 Fev 15
Existem modelos eléctricos, ó forreta!
A minha avó, uma santa, que se o céu existisse já teria destituído deus e era a gestora do empreendimento, gostava de me dar conselhos. Não te metas com prostitutas, não andes na droga, fuma menos, e um sentido, não gozes com os aleijadinhos.
Esta advertência deu-ma porque em criança gostava de imitar um tipo com um problema neurológico qualquer, que tremia como varas verdes, arrastava penosamente a perna direita e a quem baptizei de digue-digue. Ainda hoje gosto de arrojar a perna, colocar as mãos como um louva-a-deus e fazer essa imitação. Faço-o em privado, com medo que um calhau do politicamente correcto me caia sobre a cabeça, a esmague, e se veja, claramente visto, que cá dentro só tenho serradura.
A avó – não sei se já disse isto, mas era uma querida – ensinou-me a respeitar os aleijadinhos, e como bom menino, faço-o. Ou melhor, fazia-o. Tenho na vida um momento A.W.S. e D.W.S., trocado em miúdos, Antes de Wolfgang Schäuble e Depois de Wolfgang Schäuble. O homem tem um ar sinistro, parecendo daqueles pérfidos vilões de cinema que têm um guarda-costa de dois metros de alto por dois de largo a empurrar o aparelho em que se locomove. Como o preço dos bodyguards deve estar pela hora da morte, até para um boche maléfico e forreta, contratou a nossa ministra das finanças para lhe empurrar a cadeira.
Frau Albuquerque trabalha fiel e graciosamente só para aparecer na fotografia, é o protótipo da enfermeira que se apaixona pelo paciente. Acho que existe ali uma pérfida atracção sexual. Sabe bem que o velho Schäuble, mesmo em cadeira de rodas, já conseguiu foder 10,8 milhões de portugueses, 10,7 milhões de gregos, 4,8 milhões de irlandeses, and counting.
É por isso que, pela primeira vez na vida, pus de lado os conselhos da vovó e desejei que o levassem e à sua cadeirinha até ao cabo da Roca e lhe dessem um piedoso empurrãozinho. Respeita os aleijadinhos, o caralho!
por Fernando Lopes, 25 Fev 15
Uma mania recorrente dos homens etilizados em despedidas de solteiro em casas de má fama, é a tentação – que passa com a sobriedade – de resgatar uma qualquer jeitosa à má vida. Conheço vagamente o caso de um salvador que transformou uma dançarina exótica em senhora respeitável, teúda e manteúda. Recordo também o caso de acompanhante que quando questionada sobre o que a levara àqueles caminhos respondeu com desarmante simplicidade: eu gosto é de foder!
Hoje, ao observar o multi-cromático Romeu e a plastificada e experiente Julieta, pensei para com os meus botões que Roxanne, essa bela história de amor, nunca seria a canção da insólita parelha.
por Fernando Lopes, 24 Fev 15
D. Quixote e Sancho Pança, num mural na Rua Diogo Brandão à Miguel Bombarda
Sozinho neste dia de anos, resolvi fazer algo diferente. Acordei às 11:00 e pedi à Isilda (a nossa ajuda cá de casa) para preparar um sopa com a «trounchuda» que a Tia Helena, minha vizinha de Arcos, nos tinha dado. Os vegetais rurais têm um sabor completamente diverso das espécies irmãs criadas industrialmente. E como gosto de uma boa sopa de couve. Fui almoçar e decidi-me por um cachorro especial, extra-picante. Meti pés ao caminho para fotografar este mural gigantesco de D. Quixote junto à Miguel Bombarda.
por Fernando Lopes, 23 Fev 15
Chegara àquela idade em que lhe ocorria, com crescente intensidade, uma pergunta de uma simplicidade tão avassaladora que não tinha como a enfrentar. Dava por si a perguntar-se se a sua vida valeria a pena, se alguma vez valera a pena. Era uma pergunta, desconfiava ele, que assolava todos os homens a dada altura; perguntou-se se os assolaria com uma força tão impessoal como o assolava a ele. A pergunta acarretava uma tristeza, mas era uma tristeza geral que (pensava ele) pouco tinha que ver consigo ou com o seu destino em particular. Nem sequer tinha a certeza se a pergunta surgia das causas mais imediatas e óbvias, daquilo que a sua própria vida se tornara. Provinha, julgava ele, do acumular dos anos, da densidade de acidentes e circunstâncias, e do que aprendera sobre eles. Tirava um prazer cruel e irónico da possibilidade de o pouco que aprendera o ter levado a essa certeza: que, a longo prazo, todas as coisas, incluindo a aprendizagem que lhe permitia chegar aquela conclusão, eram fúteis e vazias, e por fim reduziam-se a um nada que não conseguiam alterar.
John Williams, «Stoner»
por Fernando Lopes, 22 Fev 15
Fui agora mesmo à bomba de gasolina comprar cigarros. À frente do balcão, mesmo junto ao caixa e MB ,uma promoção: duas garrafas de Porta da Ravessa por 3,25€. Dando de barato o paradoxo que é uma estação de abastecimento vender bebidas alcoólicas, o meu maço de Pall Mall custou-me 4€, mais 0,75 que duas litradas de vinho. Um país estranho onde o alcoolismo é socialmente aceite e promovido e os fumadores se tornaram na teta de sucessivos governos.
por Fernando Lopes, 21 Fev 15
Em tempos há muito idos, trabalhava este que vos escreve numa empresa de tecnologia de ponta. Por relações profissionais e afinidades fiz amizade com um daqueles rapazes que todas sonham levar para os lençóis. Alto, magro, desportista, extraordinariamente bem-parecido, atraía mulheres por quilómetros em redor. Tive com ele a partilha do que é o assédio. Quando queríamos apenas jantar, embebedar-nos e falar sobre a vida e literatura, o Pedro, involuntariamente, arrastava consigo uma troupe de mulheres enfeitiçadas.
Das poucas vezes que estivemos juntos um corrupio de raparigas ofereciam-nos copos, sentavam-se à nossa mesa, languidamente insinuavam-se-lhe olhos dentro. Mais não era o meu papel que acompanhante do príncipe, uma espécie de patinho feio que se tolera por se conduzir ao lado um cisne.
Declinou várias vezes convites dengosos, bebidas grátis e companhia feminina em troca da minha. Ser bonito e jovem deve ser bom, ser alvo para todo o mulherio, uma cruz que seria incapaz de suportar.
Levou-me a um bar de alterne, o «D. Fraquide». Passado cinco minutos uma meia-dúzia de meretrizes rodeavam-no, oferecendo gratuitamente serviços amorosos. A meu lado uma balofa com mais instinto comercial que líbido.
Nessa altura entendi que para homem ou mulher, ter carisma, ser belo, possuir magnetismo animal, mais que uma bênção, é uma cruz. A beleza exterior um martírio que o impedia de coisa tão simples como beber tranquilamente um copo com um amigo. Por muito sedutora que pareça a ideia, uma pele dessas deve ser particularmente difícil de vestir.
por Fernando Lopes, 19 Fev 15
A última vez que festejei condignamente o meu aniversário foi há 12 anos. Desde então odiei cada aniversário, mais por ter uma idade que não condiz com a cabeça que pela idade em si. Sou em muitos pequenos detalhes tão ou mais irreverente que aos 30. Faço tudo o que fazia nessa idade. Acima de tudo odeio a respeitabilidade que os anos dão, porque não sou respeitável. Continuo a adorar farra como há 30 anos, a fazer as mesmas coisas, a ser essencialmente a mesmíssima pessoa. E no entanto este aniversário que se aproxima não veio acompanhado da depressão e irritabilidade habituais. Aprendi a aceitar que mesmo com uns quilos a mais e cabelos grisalhos, nada muda verdadeiramente. Por estranho que soe, saber que a idade não me transformou em nada do que é verdadeiramente importante, tranquiliza-me. Das duas, uma: ou estou a ficar budista ou cheché.
por Fernando Lopes, 18 Fev 15
Escusado será dizer que não li o livro. Também não sou grande amante de pornografia, bondage, S&M e essa treta toda. Correndo o risco de ser demasiado confessional, na minha vida íntima nunca entraram algemas, vendas, dildos ou acessórios de qualquer espécie. Ter comigo a mulher que desejo é mais que suficiente, brinquedos e acessórios são extras que dispenso de bom-grado. Uma bela mulher ao natural é suficientemente motivante para este vosso escriba.
Imagino os preliminares desses «casais tecnológicos». Casal à volta da toy box:
- Hoje usamos as algemas ou a máscara de couro?
- Preferia o vibrador ou o chicote…
- Nada de bolas chinesas?
- Hummm, não sei.
- Olha filha perdi a vontade, arruma aí os brinquedos que acho que vou dormir.
Um homem que se preze tenta sempre compreender as mulheres, mesmo ciente que tal tarefa é irrealizável, daí este meu interesse no filme. O que faz correr a mulherada? Que secretos sonhos ancestrais de submissão esconde a mulher liberada de hoje? Umas palmadinhas no rabo passaram a algo mais que isso? Há uma masoquista em cada uma de vós? No trailer o protagonista diz uma atoarda do género: «I don´t do romance». O romance não se «faz», acontece, e sexo sem romance, embora divertido, é infinitamente menos gratificante que se acompanhado de paixão. Se o filme der uma resposta que seja a alguma destas questões que me atormentam já terá valido a pena, embora o meu sexto sentido – sim, nós homens também temos sexto sentido – me diga que vai ser tempo perdido. Conseguirá o bom do Mr. Grey superar «Pornopopeia» de Reinaldo Moraes? Temo bem que não.
por Fernando Lopes, 17 Fev 15
O verdadeiro «caminho das pedras»
A vila de Soajo pertence ao concelho de Arcos de Valdevez, de cuja sede dista cerca de 20 km, e ao distrito de Viana do Castelo e está inserida no Parque Nacional Peneda-Gerês. Recuperou o título de vila em 2009, mas já antes tinha sido, tendo, no entanto, sido extinto em 1952, em consequência das reformasliberais.
Situa-se em plena área montanhosa do Alto Minho e constitui uma das principais portas de entrada do país pela fronteira orensana da Galiza, fronteira que é limitada pelo rio Castro Laboreiro.
Soajo é também famosa pelo vasto conjunto de espigueiros erigidos sobre uma enorme laje granítica, usada pelo povo como eira comunitária. O mais antigo data de 1782. Estes monumentos de granito foram construídos na altura em que se incrementou o cultivo do milho e serviam para proteger o cereal das intempéries e dos animais roedores. As suas paredes são desunidas para que o ar circule através das espigas empilhadas. No topo são geralmente rematados por uma cruz, que significa a invocação divina para a proteção dos cereais. Parte destes espigueiros são ainda hoje utilizados pelas gentes da terra.
Aspecto de um recanto da vila
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O Pretinho do Japão é citado, como profeta, em Ram...