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O Portugal de Henrique Raposo

por Fernando Lopes, 30 Jul 12

- mais de 90% das crianças portuguesas comem fast-food pelo menos 4 vezes por semana.
- 60% das crianças vão de carro para a escola.
- As escolas ficam a dois quarteirões de casa.
- As mães dos petizes relaxam no facebook em vez de fazerem sopa.


Inquérito levado a cabo pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, na zona de Cascais.

 

Seria cómico, mas pagam a este badocha intelectual para escrever dislates.

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19 anos de casado é coisa que já não se usa!

por Fernando Lopes, 30 Jul 12

O casamento é um prova de endurance, um espécie de triatlo. É preciso correr atrás do afecto, nadar entre águas gélidas e evitar hipotermia da tolerância, pedalar pela manutenção do desejo. Como em todas as longas provas, há momentos de superação e desânimo, obstáculos que julgávamos inultrapassáveis, superados, quedas das quais nos levantamos feridos e a sangrar. Faz tudo parte desse desporto radical que é a vida a dois. Com uma dose de exaltação e aqui e ali uma pitada de drama.

 

Hoje celebro dezanove anos de casado. De sucessos e fracassos, encontros e desencontros, alegrias e tristezas. Tudo executado a quatro mãos. Parabéns a nós.

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Obrigado

por Fernando Lopes, 29 Jul 12

A amizade é coisa de pele. Não usa disfarce, sofisticação, pose. Há pessoas que amamos, mesmo sem conhecer os meandros da sua alma. Porque são genuínas, sem truques, sem politicamente correcto. Porque são como são, e aceitam-nos como somos. Sem juízos de valor, presunções de culpa ou inocência. Porque, mais do que as portas, abrem o coração. Hoje, estive com amigos desses. Que transformam o mundo num local mais belo. Que usam a autenticidade como arma de arremesso para capturar o coração, e conseguem-no com uma naturalidade desarmante. Obrigado. Vocês sabem quem são.

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O mundo político vai a banhos

por Fernando Lopes, 29 Jul 12

Num país onde, metade dos portugueses não vai fazer férias e da metade restante, só um quarto vai para fora de casa, a política e o comentário político vão a banhos. Não é difícil entender que são pequenas notas de rodapé como esta que fazem os portugueses afastarem-se da coisa pública como o diabo da cruz. O mundo político continua a dissociar-se do comum dos portugueses e perceber as suas dificuldades num plano puramente teórico. É o grau zero da coerência e da consequência. "Que se lixem os portugueses, que eu vou de férias". E recordo-me de uma velha frase de Galeano que sintetiza o que penso sobre o sistema - "A liberdade de eleição permite que você escolha o molho com o qual será devorado".

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Não me estou a referir a actividade sexual, como imaginarão a meia dúzia de amigos leitores. Falo do consumo semanal de francesinha, uma actividade completamente dietética, a que me dedico com a precisão de um relógio suíço. Saberão os caríssimos que o meu excesso de peso é perfeitamente justificado, e até modesto, face à alarvidade de que padeço.

 

Acontece que além desta característica, acompanho a grande fome de uma sede permanente, só saciada após o consumo de vários príncipes. O príncipe, além da nobreza do nome, possui a valiosa característica de ser a medida certa de cerveja, 30 cl, nem mais, nem menos. Para um apreciador de lúpulos das mais variadas proveniências, 20 cl, o vulgar fino, é claramente insatisfatório. Não cabe na cova de um dente. É uma bebida à coelho (o lagomorfo, não o PM) "é tão bom, não foi?". A caneca, do alto dos seus 50 cl, é pesada, dá um ar de bêbado e, para o fim, a cerveja está longe das condições ideais de frescura e gás.

 

Quase sempre assim se iniciam as hostilidades do meu fim-de-semana. Francesinha, molho extra, picante extra. Depois, como acontece aos quarentões sedentários, o cu é que paga. Ou como diria o Sr. Gonçalves "estou com o cu como uma couve-flor". Ah coisa e tal, porque é que não te disciplinas, lembra-te que já estás mais para lá do que para cá e renhó-nhó, renhó-nhó. É verdade, têm toda a razão. Mas o que seria a minha vida sem excesso? Uma coisa sensaborona. Aqueles momentos de prazer, valem bem o cuzinho lavado com água de malvas e o sofrimento que vem a seguir. Disse.

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A lista de Schindler, mas ao contrário

por Fernando Lopes, 27 Jul 12

A ser verdade, é patético. O governo ao serviço dos interesses privados. Não que seja nada de novo, mas demonstra total alheamento da realidade. A prestação da casa, água, luz/gás são as últimas coisas que se deixam de pagar. É uma espécie de lista de Schindler ao contrário, em que não há redenção, apenas a mão castigadora para os que "vivem acima das suas possibilidades", consumido até gás e electricidade, quando podiam fazer uma fogueira e usar velas. O valor (75€) é também ele ridículo, não permitindo, na maioria dos casos, um mês de atraso que seja. Será contrapartida por uma eventual redução nas "rendas excessivas"?

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Habitualmente disponho de uma paciência quase infinita no que toca a inquéritos telefónicos. Sei que quem está do outro lado necessita das respostas, e delas depende, muitas vezes, o seu vencimento. Já não há inquéritos que me surpreendam, pensava eu. Lembro-me de me ter recusado a responder apenas uma vez, quando me começaram a repetir as perguntas:
- Já me perguntou isso.
- Sim, eu sei, estamos a verificar a validade das suas respostas.
- Se está a duvidar do que lhe disse, o inquérito fica por aqui. Boa noite.
Isto era o mais estranho que me tinha acontecido. Até hoje. Após um extenso inquérito sobre o que pensava e valorava na EDP, o entrevistador começa a fazer-me perguntas pessoais:
- Quantas pessoas habitam no seu agregado?
- Três.
- Considera-se uma pessoa triste ou alegre?
- Depende. Alegre, normalmente.
- É de temperamento calmo ou nervoso?
- Como??!!
- O Sr. desculpe, mas estas perguntas fazem parte do questionário.
- Ó meu caro, a EDP não têm nada a ver com a minha personalidade, se sou triste ou alegre, rico ou pobre, magro ou gordo. Temos um contrato. A EDP fornece-me energia eléctrica e eu pago. A minha vida pessoal e a minha personalidade não são do interesse da EDP e recuso-me a responder a tamanho disparate.

 

Soltei uma sonora gargalhada e o meu interlocutor também não consegui deixar de se rir. O mentecapto que elaborou este inquérito devia ser despedido. Deve estar, no entanto, a ganhar uma pipa de massa para criar estas cretinices. Provavelmente virá descriminado na próxima factura. Apoio psicológico e avalição de clientes: 10 €.

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estórias

por Fernando Lopes, 25 Jul 12

Sempre tive o fascínio dos livros e das histórias. Desde a infância que me fiz acompanhar por exímios mestres dessa arte de contar. De Enid Blyton a Júlio Verne, de Garcia Márquez a Llosa, de Rentes de Carvalho a Rubem Fonseca. Todos vivemos nesse universo, às vezes trágico, outras fantástico, muitas outras, cómico. Quem gosta de ler, inevitavelmente, sente-se tentado a materializá-lo. Os três episódios de Alice são um tenteio de dar vida a essas personagens que habitam na minha imaginação. Quis fazer algo beatnik, instintivo, natural. Saiu este tortojo, um aleijão de conto. É como ser pai de um filho apatetado. Não significa que se ame menos, embora nos possa causar embaraços ocasionais. O blogue segue dentro de momentos.

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Alice (III)

por Fernando Lopes, 25 Jul 12

Na caixa de correio, um daqueles folhetos de viagem. Um passeio pela Galiza, almoço no Grove, vista à ilha de La Toja, ou a Toxa como dizem e escrevem os galegos. Alice surpreendeu-se com a fábrica de sabonetes, a capela de conchas, o grande hotel. "Quieres pendientes?" interrogavam as vendedeiras. Passeamos entre  jovens, sorvendo a sua vida, alegria, vontade de viver. À noite, no hotel, remocei. No escuro, como ela gosta, fizemos amor.

 

No regresso paragem no El Corte Inglés. A ideia era perfumarmo-nos à borla, debicar fruta, experimentar roupa que nunca poderíamos comprar. À saída do autocarro, um ruído de travagem, um grito, um quebrar de ossos. Senti-me divido em dois, um boneco articulado. Uma enorme dor. Nada. Quando despertei um médico ou um anjo barbudo, não sei bem, disse-me: "- Su compañera murió. Lo siento." Deitado, no hospital, tenho tempo para pensar. A felicidade é sempre um estado transitório. Quando sair daqui vou beber um copo a isso.

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Alice (II)

por Fernando Lopes, 24 Jul 12

- Alice, preciso de beber alguma coisa que não café, pode ser? Relutantemente, foi ao frigorífico e trouxe uma garrafa de Gazela e dois copos. Sentamo-nos frente à televisão, a ver a novela. Pela primeira vez em muitos anos não bebi tudo de um trago. Fingi que estava a saborear, como se fosse um especialista, dando pequenos estalidos com a língua. Pareceu reconfortada. Adormeceu encostada ao meu ombro, lado a lado no velho sofá. Escapei-me para a cozinha e escorropichei duas cervejas e um pacote de vinho. Acordou e expliquei-lhe o acontecido." - Não tem mal. Queres dormir cá?". Pudicamente, mostrou-me o quarto das visitas.

 

Acordou-me manhã cedo, dizendo que queria levar-me ao doutor. "- Um bom médico, trabalha para a polícia, e como tu sabes há muitos guardas que gostam da pinga!". Decidido a levar esta minha tentativa de regeneração até ao fim, acedi. Mais para não a desiludir que por mim, as ilusões já morreram há muito. Na rua, a luz forte da manhã cegava-me. Alice caminha a meu lado, como velhos amigos ou amantes. Apercebe-se que estou agoniado, meio a tremer, com uma palidez vampírica. "- Precisas de ir beber uma cerveja?". Assenti com a cabeça. No velho consultório, esperei cá fora enquanto Alice entabulava negociações com a assistente. Saiu radiante, dizendo: "- Temos consulta para amanhã e não preciso pagar nada, é como se fosse para mim." Passeamos por Santa Catarina, a ver montras.

 

Comecei a tomar Tiapridal. Com o tempo os tremores foram passando, comecei a enjoar o álcool. Entrei numa estranha normalidade, que já não era a minha há muitos anos. Às vezes passeamo-nos de mãos dadas, como um velho casal de jarretas. Passo o tempo entre a pensão e a casa de Alice. Hoje quando cheguei tinha um bilhete. "Amo-te. Queres vir morar comigo?". Começámos a partilhar cama e mesa.

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