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O urso de Ayamonte

por Fernando Lopes, 20 Mai 12

Em Ayamonte, no fundo do parque público existiram durante alguns anos umas jaulas ferrugentas e em mau estado que albergavam animais. A decrepitude do local recordava-me o "zoológico" do antigo Palácio de Cristal. Cárceres antigos, um macaco conhecido como "Chico do Palácio", um leão tão velho que já não tinha dentes, albergados entre pavões e gaiolas de pássaros, garnisés e galinhas da Índia, tudo num registo de negligência que deixava constrangido o coração mais insensível. Detesto zoos e essa primeira experiência talvez tenha sido determinante.

 

O velho urso de Ayamaonte estava velho e catatónico. E estes animais exprimem esse catatonismo de forma particularmente pungente. Rodopiam sobre si próprios, abanam a cabeça, num movimento perpétuo e involuntário, que denuncia que a sua alma já se perdeu para sempre nos labirintos do sofrimento. Nada melhor para combater a melancolia do que o alheamento, o catatonismo, o abanar a cabeça de lá para cá, de cá para lá, como se quiséssemos expulsar de nós esse demónio da insegurança e sofrimento que insiste em nos perseguir. Às vezes sinto-me como o velho de urso de Ayamonte. Não deve ser invulgar.

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