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A bola de berlim e o pastel de nata

por Fernando Lopes, 19 Jan 12


A bola de berlim é redonda, cheia, tão barriguda que não cabe em si o recheio. Ostensivamente exibe-o, amarelo cor do ouro, a transbordar. O pastel de nata é uma taça. Um recipiente de cremes vários, dourados pelo sol. Come-se em duas dentadas. A bola polvilhada de açúcar, espalha o branco pó à sua volta. Borra tudo. Faz merda. A nata como doce menor, pequenino e arranjadinho faz o que lhe mandam. Transforma os trabalhadores em tíbias, escanzeladas, a quem já só resta o chantili no interior. Fá-lo através de acordos de mil folhas com o respeitoso assentimento do palito de La Reine.

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desabafo

por Fernando Lopes, 19 Jan 12

Às sextas o clã reúne-se em casa da mãe. Apesar de já septuagenária e sempre pouco dada às lides domésticas, enche-se de força para fazer o jantar. Não por mim, filho dispensável, criado longe do afago materno. Perpetua um estranho conceito de família, em que o marido sempre foi figura central. Com a morte prematura do seu deus, resta-lhe recorrer a uma ficção. Não que não goste da mãe, do mano ou da sobrinha. Gosto e muito. Mas nunca uma relação mãe-filho pode percorrer os caminhos do banal, quando lhe escutei, no desespero da viuvez recente, o desabafo de que preferiria ter perdido um filho ao marido. Os laços, já ténues, desapareceram nesse momento. Vivemos nesse fingimento de uma normalidade que nunca existiu, e esse sentido murmúrio enterrou definitivamente.

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