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Tudo e um par de botas.

por Fernando Lopes, 19 Jan 17

Muitas mulheres têm rituais sazonais com roupa. Mudam as coisas do armário de verão para o de inverno, colocam umas num local prioritário em relação às restantes. Nenhum homem perde tempo com isso. Gajo que é gajo está-se nas tintas, apenas veste uma camisola quando está frio, nem sequer sendo muito exigente com o que lhe calha em sorte, bastando que esteja lavada. A chefa cá de casa andou a organizar os trapinhos, aproveitou para me propor uma limpeza dos meus. Tinha coisas que não vestia desde os anos 90, mas porra, eram as minhas coisas. Ora eu tenho «roupa afectiva». Explico o conceito: preservo um blusão de pele há mais de trinta anos porque a minha avó mo deu e porque naquela altura custou cinquenta contos, uma pequena fortuna; existem Levi's já meias podres que me recordam momentos felizes e não quero delas abdicar; tenho uma t-shirt de cada país que visitei e não planeio deita-las fora; conservo algumas tralhas de juventude porque me recordam esses tempos de Frei João Sem Cuidados. Obviamente, tive de ouvir a piada: mas é tudo afectivo para ti? É. Sou um tipo de afectos, até com as roupas crio algum tipo de relação. São cenas de gajo, minhas, as meninas não têm que compreender, apenas aceitar. Só um gajo ganharia alguma forma de amor a um par de botas.

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1 comentário

De redonda a 19.01.2017 às 19:47

Como cenas de gajo? Estava eu plenamente solidária quando chego ao final (afinal ainda guardo umas calças cor de rosa de quando tinha 16 anos, de vez em quando volto a vesti-las, contenho a respiração enquanto concluo que servem perfeitamente e apresso-me a guardá-las de novo no fundo no armário).

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